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CRÍTICA
A primeira impressão não é o que conta
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"O Pianista" divide-se em três partes. Na
primeira, Roman Polanski trata da ocupação de Varsóvia pelos nazistas e da criação do infame gueto para os judeus da Polônia. Na segunda, ocupa-se da vida do pianista Wladyslaw Szpilman após sua família ser deportada até fugir do gueto. A parte final cuida de como
Szpilman sobrevive numa cidade sob ocupação inimiga, das relações que estabelece, de seus padecimentos.
Não é relevante saber que o pianista atravessa toda a
história (não se dá nome a um filme por acaso), as surpresas vêm no fim. Essenciais são as mudanças de tratamento do filme.
O início faz pensar na acusação feita por Godard de
que Spielberg "reconstruiu Auschwitz" ao filmar "A Lista de Schindler". Com efeito, foi a senha para uma espécie de "gênero Holocausto".
Polanski não foge da banalidade ao narrar os horrores
do gueto de Varsóvia: nazistas chicoteiam gente como
nos espetáculos dedicados ao Império Romano; somos
submetidos a fuzilamentos em primeiro plano etc.
A segunda parte é descritiva e refere-se às lembranças
da juventude do diretor na época da guerra (a não esquecer: ele é polonês). O filme sobe, mas não muito.
Quando estamos perdendo as esperanças, uma reviravolta: entramos nos últimos dias da guerra e, finalmente, Polanski lança a sua questão. O que é sobreviver
na guerra, o acaso em que o
destino de cada um é projetado, o aspecto sombrio,
caótico e risível do humano.
Ao lado do caos, da dor, da
insignificância há também o
sublime: a arte, aqui representada pela música. Se a
primeira impressão é a que
conta, "O Pianista" merecia
ser execrado. Se é a última,
terá merecido os "n" prêmios que ganhou.
O Pianista
The Pianist
Direção: Roman Polanski
Produção: EUA, 2002
Com: Adrien Brody, Emilia Fox
Quando: estréia nos cinemas na
próxima sexta-feira
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