São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INDEPENDENTE

Em seu terceiro álbum, grupo tenta "simplificar" estrutura das canções e faz uso de letras surrealistas

Objeto Amarelo discute conceitos de arte em disco

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Foi no meio dos anos 70 que alguns conceitos sobre música acabaram se embaralhando, dando origem a mais confusões do que acertos -punk virou sinônimo de música mal tocada e falta de uma produção rica tornou-se a única culpada para o surgimento de obras simplesmente ruins.
O grupo paulistano Objeto Amarelo, mesmo não esclarecendo nenhuma dessas questões, válidas até hoje, retoma algumas conceitos tão antigos quanto primordiais a qualquer discussão sobre arte propriamente dita (música pop é mero produto industrial ou arte?, afinal?).
Em seu terceiro e mais recente disco, "Deus da Pedrada", a banda/ projeto, subverte itens básicos da indústria musical.
O Objeto Amarelo surgiu em 1999 em SP, inicialmente mais como "projeto de um homem só" -Carlos Issa, 32- do que um grupo. Com um estúdio caseiro (formado basicamente por um gravador portátil), o músico faz colagens sonoras experimentais -muitas vezes apenas um emaranhado de ruídos-, com influências distintas, como free jazz, punk, eletrônica e bossa nova. Com o tempo, foi virando uma banda no sentido tradicional.
O estranhamento de "Deus da Pedrada" já começa pelo objeto CD, que neste caso é um produto artesanal. Com mais cara de instalação e obra de artista plástico, a caixa, fina, não traz identificação do nome da banda ou músicas. No lugar do tradicional encarte de papel, há uma transparência com uma foto de uma pedra.
Na parte sonora, a coisa não muda muito. São oito peças, que resultam em 13min03seg de música no total. As "canções" partem do princípio "quanto mais tosco melhor", com bases eletrônicas, guitarras e letras surrealistas. Não é punk nem música eletrônica nem poesia concreta.
"Esta sonoridade surge de uma vontade de simplificar a música ao máximo, de chegar ao básico da questão", diz Issa. "O Objeto Amarelo às vezes é redundante, repetitivo, parece um jingle", diz.
Jingles que dificilmente encontrariam espaço em canais tradicionais. "Tundra", com menos de dois minutos, por exemplo, é composta por versos como "Joga ela nessa tundra/ deixa ela lá/ sofrendo/sofrendo muito". "As músicas têm uma cara de rascunho, de coisa mal-acabada, aberta", diz. "Som e arte acabam se comunicando." Dessa forma, Issa e o Objeto acabam promovendo uma espécie de interação com o público que a música comercial acaba perdendo.
A tentativa de unir música com a experiência sensorial, tátil, de outras expressões artísticas, estende-se com os três vídeos presentes no CD, todos dirigidos pelo integrante Michael Arms.
"Não fico pensando se o disco irá vender ou se ele deve ser encarado como arte, no sentido mais tradicional da palavra."
"Há cinco anos tento fazer um hit de pista....", diz Issa. Em shows recentes, o grupo simplesmente não toca canções prontas. Eles chegam a desenvolver uma música na hora, diante do público.


DEUS DA PEDRADA. Artista: Objeto Amarelo. Lançamento: Bizarre (www.bizarremusic.com.br). Quanto: R$ 25.


Texto Anterior: Skol Beats escala 26 atrações estrangeiras
Próximo Texto: Artes plásticas: Especial capta dispersão de Fábio Miguez
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.