|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INDEPENDENTE
Em seu terceiro álbum, grupo tenta "simplificar" estrutura das canções e faz uso de letras surrealistas
Objeto Amarelo discute conceitos de arte em disco
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Foi no meio dos anos 70 que alguns conceitos sobre música acabaram se embaralhando, dando
origem a mais confusões do que
acertos -punk virou sinônimo
de música mal tocada e falta de
uma produção rica tornou-se a
única culpada para o surgimento
de obras simplesmente ruins.
O grupo paulistano Objeto
Amarelo, mesmo não esclarecendo nenhuma dessas questões, válidas até hoje, retoma algumas
conceitos tão antigos quanto primordiais a qualquer discussão sobre arte propriamente dita (música pop é mero produto industrial
ou arte?, afinal?).
Em seu terceiro e mais recente
disco, "Deus da Pedrada", a banda/ projeto, subverte itens básicos
da indústria musical.
O Objeto Amarelo surgiu em
1999 em SP, inicialmente mais como "projeto de um homem só"
-Carlos Issa, 32- do que um
grupo. Com um estúdio caseiro
(formado basicamente por um
gravador portátil), o músico faz
colagens sonoras experimentais
-muitas vezes apenas um emaranhado de ruídos-, com influências distintas, como free jazz,
punk, eletrônica e bossa nova.
Com o tempo, foi virando uma
banda no sentido tradicional.
O estranhamento de "Deus da
Pedrada" já começa pelo objeto
CD, que neste caso é um produto
artesanal. Com mais cara de instalação e obra de artista plástico, a
caixa, fina, não traz identificação
do nome da banda ou músicas.
No lugar do tradicional encarte de
papel, há uma transparência com
uma foto de uma pedra.
Na parte sonora, a coisa não
muda muito. São oito peças, que
resultam em 13min03seg de música no total. As "canções" partem
do princípio "quanto mais tosco
melhor", com bases eletrônicas,
guitarras e letras surrealistas. Não
é punk nem música eletrônica
nem poesia concreta.
"Esta sonoridade surge de uma
vontade de simplificar a música
ao máximo, de chegar ao básico
da questão", diz Issa. "O Objeto
Amarelo às vezes é redundante,
repetitivo, parece um jingle", diz.
Jingles que dificilmente encontrariam espaço em canais tradicionais. "Tundra", com menos de
dois minutos, por exemplo, é
composta por versos como "Joga
ela nessa tundra/ deixa ela lá/ sofrendo/sofrendo muito". "As músicas têm uma cara de rascunho,
de coisa mal-acabada, aberta",
diz. "Som e arte acabam se comunicando." Dessa forma, Issa e o
Objeto acabam promovendo uma
espécie de interação com o público que a música comercial acaba
perdendo.
A tentativa de unir música com
a experiência sensorial, tátil, de
outras expressões artísticas, estende-se com os três vídeos presentes no CD, todos dirigidos pelo
integrante Michael Arms.
"Não fico pensando se o disco
irá vender ou se ele deve ser encarado como arte, no sentido mais
tradicional da palavra."
"Há cinco anos tento fazer um
hit de pista....", diz Issa. Em shows
recentes, o grupo simplesmente
não toca canções prontas. Eles
chegam a desenvolver uma música na hora, diante do público.
DEUS DA PEDRADA. Artista: Objeto
Amarelo. Lançamento: Bizarre
(www.bizarremusic.com.br). Quanto:
R$ 25.
Texto Anterior: Skol Beats escala 26 atrações estrangeiras Próximo Texto: Artes plásticas: Especial capta dispersão de Fábio Miguez Índice
|