LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A trajetória artística de um dos ex-integrantes da Casa 7, grupo de jovens artistas paulistanos que retomou a pintura nos anos 80 através de um viés neo-expressionista, é tema do documentário "Fábio Miguez - Território de Dúvidas", na Rede SescSenac.
O artista, que completa 42 anos amanhã, divide seu trabalho em dois segmentos, antagônicos na escala, mas igualmente "espaciais": "Eu tenho feito uma série de telinhas bem pequenas, de 23cmx30cm, quase desenhos. Também estou desenvolvendo umas pinturas com uns tarugos enormes que se projetam para fora do quadro, é uma homenagem a Sérgio Camargo".
Assim como as plantas arquitetônicas que são vistas de cima, os desenhos e as pinturas de Miguez podem ser "lidos" assim. É uma obra que carrega a marca de quem passou pela faculdade de arquitetura.
Miguez mostra, no documentário, a ligação que existe entre as fotografias nebulosas em preto e branco que ele faz no litoral há dez anos e suas pinturas de fundo branco.
"Não sou profissional da fotografia, mas eu sempre fotografo, meio tocando nesse sentido da deriva, nessa dificuldade de composição. As fotos sempre formam duplas porque uma esvazia a outra, ou seja, dá o sentido para a outra", diz Miguez.
É dentro dessa "dispersão", como frisa o artista, que outras soluções, outras composições são encontradas. Miguez busca um fio de tensão entre o elemento pictórico, "que tem a ver com a minha história", segundo ele, e outros elementos de composição, como placas de compensado ou bloquinhos de madeira.
Segundo o artista, um quadro é bem-sucedido quando sua composição final indica que ele tem outras composições, outras saídas. "E isso é o mais difícil de alcançar", diz Miguez.