São Paulo, sábado, 05 de março de 2005

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FILOSOFIA/"INICIAÇÃO À ESTÉTICA"

Manual informa e faz refletir sobre arte

VICTOR KNOLL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde as primeiras páginas de "Iniciação à Estética" o leitor fica esclarecido sobre sua origem: a sala de aula. Esse manual, valioso instrumento de trabalho para o professor e preciosa fonte de consulta para o aluno, permite ao leitor comum familiarizar-se com as teorias clássicas e os grandes temas que ocuparam a reflexão sobre a obra de arte.
O primeiro passo dado por Suassuna consiste em observações metodológicas no sentido de estabelecer a natureza e o objeto da estética. Dessa maneira, o leitor fica de posse dos parâmetros teóricos que irão nortear sua leitura das grandes concepções históricas da arte e também dos temas clássicos como "arte e natureza" e "arte e moral".
Entretanto, o leitor irá além disso encontrar aqui uma visão de cada arte particular. De fato, a ambição é um pouco maior, pois Suassuna procura efetuar uma classificação das artes. Aliás, pode-se sugerir, dotada de um certo espírito hegeliano, pois às artes do espaço (escultura e pintura), segue-se a arte do tempo (a música), dois lados que se encontram reunidos na literatura. Fechando a classificação temos as artes de espetáculo.
Ainda sobre a questão de método, Suassuna critica a tentativa de converter a estética em uma disciplina científica, como um capítulo da psicologia experimental, e procura mostrar, ao contrário, por força de laços históricos e lógicos, que sua realização enquanto disciplina só pode se dar no âmbito filosófico. A chamada estética científica corre o risco de cair no psicologismo, no sociologismo ou, ainda, no historicismo.
Para Suassuna a estética -a reflexão sistemática sobre as obras de arte- é um capítulo da filosofia. Por esse motivo também não se confunde com a crítica de arte, pois esta se atém ao particular -à obra concreta diante de nossos olhos-, enquanto a reflexão estética, de cunho filosófico, se ocupa com o geral, com o estabelecimento de princípios que nortearão qualquer investigação, histórica ou analítica, das obras.
Dessa maneira, Suassuna dedica atenção especial à caracterização do objeto estético visto como "uma espécie de reformulação da filosofia inteira em relação à beleza e à arte". Assim, a especulação estética ou mesmo a análise das obras de arte deve enfrentar as questões relativas à metafísica da beleza como também aquelas que dizem respeito "à arte considerada como forma de "conhecimento poético'". Dentro dessa caracterização do objeto estético, além do estabelecimento de princípios, cabe ainda o exame das intrincadas relações entre a arte, a ética e a religião.
Suassuna não deixa de nos lembrar que se impõe uma opção, ao nos aventurarmos na reflexão sobre a obra de arte, entre uma estética objetiva e outra subjetiva. A beleza é uma propriedade da obra de arte ou é o efeito que ocupa o sujeito que a contempla?
O livro possui dupla articulação: histórica -um resumo das mais importantes doutrinas estéticas desde Platão- e lógica no que diz respeito ao estabelecimento de um sistema das artes particulares e das conexões entre os conceitos básicos da estética.
Merece atenção o fato de o autor dedicar dois capítulos para o tratamento do riso. A grande maioria dos tratados de iniciação à estética nem sequer mencionam tal questão, ligada intimamente à comédia. No primeiro faz um rápido inventário das diversas teorias sobre o riso e no segundo expõe o já clássico ensaio de Bergson.
O livro possui caráter informativo mas também provoca a reflexão, seja sobre as mutações dos conceitos estéticos, seja quanto à natureza de cada arte particular. Por exemplo, ao tratar da pintura, discute as questões básicas: a figuração, a abstração, a linha, a cor. Apenas lamentamos, do ponto de vista editorial, a falta de ilustrações sempre necessárias quando pomos sob nossa mira obras de arte.


Victor Knoll é orientador em pós-graduação no Departamento de Filosofia da USP

Iniciação à Estética     
Autor: Ariano Suassuna
Editora: José Olympio
Quanto: R$ 39,50 (398 págs.)


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