São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2010

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO, em Milão - ultima.moda@grupofolha.com.br

Milão contra o "diabo"

Semana de moda italiana é dominada por protestos contra a editora da "Vogue"

As polêmicas durante a semana de moda de Milão parecem não ter fim. Em setembro de 2009, a crítica anglo-saxã disparou forte contra as grifes italianas, acusando-as de adotarem nas roupas o estilo vulgar da era Berlusconi. Desta vez, os italianos saíram a campo contra a poderosa editora da "Vogue" americana, Anna Wintour, que pediu às principais marcas para concentrarem seus desfiles em três dias.
A controvérsia não saiu das páginas dos jornais, e houve até mesmo um protesto organizado contra a editora da "Vogue" na entrada do desfile da Gucci. Os italianos tomaram o pedido de Wintour, que inspirou a personagem principal do livro e do filme "O Diabo Veste Prada", como uma tentativa de destruir a moda do país. Ela preferiu não comentar o assunto.
Para completar a polêmica, a Câmara Nacional da Moda Italiana anunciou que o calendário milanês voltará a ter sete dias na próxima estação.
Milão apresentou mais de 70 desfiles nos seis dias desta temporada do outono-inverno 2010/11. As passarelas se encheram de roupas sofisticadas e de alta elaboração técnica.
No entanto, as marcas, em geral, pareciam mais interessadas em afirmar a sua tradição e o prestígio do "made in Italy" do que em refletir sobre a moda contemporânea e seus caminhos. Tudo era belo, mas sem a vibração da atualidade.
Três grifes se afastaram do marasmo: Jil Sander, Marni e Missoni. Na primeira, chamou a atenção a inteligente reflexão sobre a função contemporânea da alfaiataria. Na segunda, destacou-se a ousadia das silhuetas e da estamparia. A Missoni fez uma das coleções mais emocionantes da temporada, uma verdadeira apologia ao tricô.
Em quase todas as coleções, a imagem feminina predominante foi a de uma mulher determinada, muito segura de si e mais interessada em ser sujeito do que objeto.
Daí, a evocação nas roupas de elementos militares, do estilo "business woman" dos anos 90 (como na Dolce & Gabbana), sem falar de emblemas anticonformistas, como as garotas folk-hippies (em Roberto Cavalli) ou a atriz Greta Garbo, que inspirou a Salvatore Ferragamo e é tema de uma exposição promovida pela grife na Triennale de Milão. O estilo mais juvenil se impôs com a Versus (segunda linha da Versace) e com os tricôs da D&G.
Além do tricô, o couro foi a "estrela" das coleções, utilizado das maneiras mais versáteis possíveis, tanto por grifes com notória maestria deste material, como a Bottega Veneta (que agora é vendida no Brasil na Avec Nuance), quanto na Gucci, que o explorou de maneira bem sensual.
Na silhueta, as atenções se transferiram dos ombros (tema da estação passada) para as golas e os seios, valorizando o busto, como na Prada. Cores pastel, preto, cinza e muitas variações de marrom dominaram as passarelas. Mas o rosa, o vermelho e o branco apareceram aqui e ali, iluminando as coleções. Surpreendentemente, Giorgio Armani foi um dos que se rebelaram com mais brilho contra a sisudez das cores.

com VIVIAN WHITEMAN



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