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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, em Milão - ultima.moda@grupofolha.com.br
Milão contra o "diabo"
Semana de moda italiana é dominada por protestos contra a editora da "Vogue"
As polêmicas durante a semana de moda de Milão parecem não ter fim. Em setembro
de 2009, a crítica anglo-saxã
disparou forte contra as grifes
italianas, acusando-as de adotarem nas roupas o estilo vulgar da era Berlusconi. Desta
vez, os italianos saíram a campo contra a poderosa editora da
"Vogue" americana, Anna Wintour, que pediu às principais
marcas para concentrarem
seus desfiles em três dias.
A controvérsia não saiu das
páginas dos jornais, e houve até
mesmo um protesto organizado contra a editora da "Vogue"
na entrada do desfile da Gucci.
Os italianos tomaram o pedido
de Wintour, que inspirou a personagem principal do livro e do
filme "O Diabo Veste Prada",
como uma tentativa de destruir
a moda do país. Ela preferiu
não comentar o assunto.
Para completar a polêmica, a
Câmara Nacional da Moda Italiana anunciou que o calendário milanês voltará a ter sete
dias na próxima estação.
Milão apresentou mais de 70
desfiles nos seis dias desta temporada do outono-inverno
2010/11. As passarelas se encheram de roupas sofisticadas e
de alta elaboração técnica.
No entanto, as marcas, em
geral, pareciam mais interessadas em afirmar a sua tradição e
o prestígio do "made in Italy"
do que em refletir sobre a moda
contemporânea e seus caminhos. Tudo era belo, mas sem a
vibração da atualidade.
Três grifes se afastaram do
marasmo: Jil Sander, Marni e
Missoni. Na primeira, chamou
a atenção a inteligente reflexão
sobre a função contemporânea
da alfaiataria. Na segunda, destacou-se a ousadia das silhuetas e da estamparia. A Missoni
fez uma das coleções mais emocionantes da temporada, uma
verdadeira apologia ao tricô.
Em quase todas as coleções, a
imagem feminina predominante foi a de uma mulher determinada, muito segura de si e
mais interessada em ser sujeito
do que objeto.
Daí, a evocação nas roupas de
elementos militares, do estilo
"business woman" dos anos 90
(como na Dolce & Gabbana),
sem falar de emblemas anticonformistas, como as garotas
folk-hippies (em Roberto Cavalli) ou a atriz Greta Garbo,
que inspirou a Salvatore Ferragamo e é tema de uma exposição promovida pela grife na
Triennale de Milão. O estilo
mais juvenil se impôs com a
Versus (segunda linha da Versace) e com os tricôs da D&G.
Além do tricô, o couro foi a
"estrela" das coleções, utilizado
das maneiras mais versáteis
possíveis, tanto por grifes com
notória maestria deste material, como a Bottega Veneta
(que agora é vendida no Brasil
na Avec Nuance), quanto na
Gucci, que o explorou de maneira bem sensual.
Na silhueta, as atenções se
transferiram dos ombros (tema
da estação passada) para as golas e os seios, valorizando o
busto, como na Prada. Cores
pastel, preto, cinza e muitas variações de marrom dominaram
as passarelas. Mas o rosa, o vermelho e o branco apareceram
aqui e ali, iluminando as coleções. Surpreendentemente,
Giorgio Armani foi um dos que
se rebelaram com mais brilho
contra a sisudez das cores.
com VIVIAN WHITEMAN
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