São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Universidade agora ensina a cozinhar

Lili Martins/Folha Imagem
O chef Carlos Siffert, do Tambor, que dará aulas no primeiro curso universitário de gastronomia do Brasil


CRISTIANA COUTO
especial para a Folha

O prato de um chef pode ser mais saboroso se por trás de seu talento estiverem pitadas de psicologia, conceitos químicos e matemáticos e antropologia do alimento?
A proposta do primeiro curso superior de gastronomia do país, criado este ano pela Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, é formar, daqui a quatro anos, 48 chefs de cozinha, diploma embaixo do braço, com ensinamentos que vão de técnicas culinárias a aspectos de organização e comando de um restaurante.
O curso da Anhembi Morumbi é uma nova modalidade de curso universitário (leia texto nesta página), denominada curso superior de formação específica, com o objetivo de formar mão-de-obra especializada para o mercado de trabalho em um tempo menor do que o de um curso superior normal.
O aluno terá diploma de nível universitário, mas não de bacharel, em dois anos e, em média,1.600 horas/aula.
Instalado em uma antiga fábrica têxtil na zona leste, onde funciona a segunda unidade da universidade, o curso de gastronomia, cujas aulas começaram na última segunda-feira, mescla teoria e prática nos moldes norte-americanos de ensino: mão na massa, matérias em módulos (que podem ser frequentados, independentemente do curso, por gourmets), ingredientes e equipamentos importados (uma das justificativas para a mensalidade de R$ 724).
A montagem do currículo baseou-se em escolas de culinária norte-americanas, como o Culinary Institute of America e California Culinary Academy.
Mas o corpo docente é genuinamente brasileiro. Entre os professores, estão Carlos Siffert, sócio-proprietário e chef do Tambor, Josimar Melo, crítico gastronômico da Folha, e Ricardo Maranhão, historiador da Unicamp.
Nos quase 40 módulos, o aluno aprenderá, por exemplo, técnicas em confeitaria, conhecerá a cozinha asiática e criará pratos, além de aulas sobre vinhos, informática e química aplicadas à cozinha.
Além da prática nos fogões instalados em sala de aula, o aspirante a cozinheiro deve cumprir 256 horas de estágio em um restaurante. "Nas aulas, já começamos a desmistificar a idéia de que cozinhar é uma aventura. Para fazer um prato, há custos e um contexto a ser considerado", diz Siffert, que ensina como preparar sopas e caldos.
De cunho mais cultural, as aulas de história da gastronomia visam "desalienar o gesto do cozinheiro, fornecendo conteúdo para as técnicas que ele vai utilizar", explica Josimar Melo, que ministra as aulas ao lado de Maranhão.
Para os chefs em atividade, o curso é importante, pois eleva o nível de profissionais na cozinha. Para Alex Atala, do restaurante 72, e Carla Pernambuco, do Carlota, a educação formal ensina técnica, mas não é indispensável, pois um chef de cozinha se formará, mesmo, no dia-a-dia do restaurante.
"Queremos formar profissionais da gastronomia, não só cozinheiros. Quem sair daqui poderá atuar em produção culinária ou ser um crítico gastronômico", diz Verônica Bilik, coordenadora do curso.


Texto Anterior: Heineken Concerts 99: Evento traz a música das Américas ao país
Próximo Texto: País assiste a boom de cursos de gastronomia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.