São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2000


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A verdade sobre os Beatles

Jesse Bravo/Reprodução
Os 'fabulous four', nos anos 50, do alto para baixo, em sentido horário: Ringo, John, Paul e George



Trinta anos depois que a banda acabou, os Beatles estão para acertar os arquivos publicando sua própria biografia


JAN WATTS
da "Planet Syndication"

Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr se reuniram para contar a história verdadeira dos Beatles pela primeira vez numa publicação. O livro de 350 mil palavras vai ser publicado em setembro na Inglaterra e nos EUA.
Os editores dizem que o livro vai corrigir muitos mitos sobre os Beatles. Entre as revelações contidas na biografia estará finalmente a verdade sobre a separação do grupo (leia trecho abaixo).
Por 30 anos, o mundo acreditou que os Beatles terminaram no dia 10 de abril de 1970, quando Paul McCartney anunciou que estava deixando a banda.
Entretanto, no livro os Beatles explicam como a banda acabou em segredo um ano antes do anúncio de Paul McCartney, que, na realidade, foi o último membro da banda a sair.
"Escritores que nunca se encontraram com os Beatles, muito menos os entrevistaram, têm publicado livros equivocados sobre o grupo e repetindo mitos sobre eles desde 1963. Há uma grande quantidade de livros com erros de informação sobre os Beatles e agora, com essa biografia definitiva, esses livros se tornarão incompletos", disse uma fonte próxima ao projeto.
"Este livro vai finalmente contar a verdadeira história do que aconteceu, porque é escrito pelos próprios personagens."
O livro dos Beatles levou seis anos para ser compilado. Escrito inteiramente com palavras dos remanescentes do grupo, o livro mapeia a história da banda desde recordações de infância em Liverpool até o fim do grupo, depois da gravação de "Abbey Road".
As 400 páginas revelam detalhadamente as lembranças de Paul, George e Ringo junto com outras do produtor dos Beatles, George Martin, o assessor de imprensa Derek Taylor e o antigo manager de turnês, Neil Aspinall -que é agora o presidente da Apple Corps., a empresa dos Beatles que está organizando a publicação.
Intitulado "The Beatles Anthology", como a série de TV e a caixa de seis CDs com canções inéditas, lançados em 1995, o livro também contém o acervo mais completo de depoimentos de John Lennon, resultado de centenas de entrevistas dadas pelo beatle morto, durante sua vida tragicamente curta.
A Apple Corps. passou vários anos adquirindo discretamente os direitos de todas as entrevistas de John Lennon.
"Existem aproximadamente 380 outros livros sobre os Beatles, mas, com muito poucas exceções, nenhum deles vai valer nada assim que o livro escrito pelos próprios Beatles for publicado", disse a fonte.
"O livro "The Beatles Anthology" é uma "bíblia". Ele tem o tamanho de uma enciclopédia e será ilustrado com 1.300 fotografias -muitas delas serão fotos pessoais dos membros da banda que nunca foram publicadas antes. As lembranças dos Beatles vão aparecer impressas pela primeira vez como um grupo."
"O livro diz a verdade sobre os dias do grupo em Hamburgo, sobre a loucura das turnês na Austrália, Japão e Estados Unidos, sobre as drogas, o dinheiro e, finalmente, a verdade sobre o fim da banda."
De acordo com a história do pop, a bolha dos Beatles estourou no dia 10 de abril de 1970, quando Paul McCartney soltou um comunicado à imprensa revelando que a banda estava terminada. Desde então, McCartney tem sido responsabilizado pelo fim da banda.
Entretanto, de acordo com os depoimentos dos Beatles no novo livro, McCartney foi, na verdade, o último dos quatro a deixar o grupo e, de fato, lutou para que os Beatles ficassem juntos ao aceitar uma turnê em pequenos clubes de blues.
O livro conta como George e Ringo deixaram a banda no final dos anos 60 (e foram persuadidos a retornar) e também revela que John Lennon renunciou aos Beatles depois de se apresentar em Toronto com a The Plastic One Band. Mas sua renúncia foi mantida em segredo.
"Depois da estréia da Plastic One Band, nós tivemos uma reunião em Saville Row, onde John finalmente fez as coisas esquentarem", revela Ringo no livro.
"John disse: "Bem, é isso, vamos terminar". E embora eu tenha dito "sim", porque estava mesmo acabando, eu não sei se eu teria dito "terminar". Eu provavelmente acabaria aos poucos, ao longo de alguns anos."
Paul acrescenta: "Eu tinha dito: "Acho que devemos voltar às pequenas turnês. Eu realmente acho que somos uma grande banda pequena. Devemos achar nossas raízes e depois ver o que vai acontecer. Nós podemos querer terminar depois disso ou podemos achar que ainda temos algo".".
"John olhou nos meus olhos e disse: "Bem, eu acho que você é um tolo! Eu não ia dizer isso antes de assinarmos o contrato da Capitol". (O empresário Allen) Klein estava tentando nos fazer assinar um novo contrato com a nossa gravadora. "Mas eu estou deixando o grupo", disse John."
"E foi isso. Não há muito o que dizer em resposta a um "estou deixando o grupo", vindo de um peça-chave da banda. Eu não sabia o que dizer. Ele estava bem decidido, então não podíamos fazer nada. Foi mais tarde, quando o fato pareceu irremediável, que a coisa ficou realmente desagradável."
George: "Eu não me lembro de o John dizer que queria terminar os Beatles. Não me lembro de onde ouvi. Todos nós tínhamos tentado sair, não era algo novo. Todos estavam saindo havia anos".
Ringo: "Havia a história que eu contei sobre a minha saída durante o "Álbum Branco", porque eu achava que eles (Paul, John e George) estavam próximos demais... Era apenas loucura. Com George saindo, nós não sabíamos o que iria acontecer".
"Mas eu não acho que isso tenha terminado, até que terminou, na reunião no escritório de Saville Row, quando dissemos "acabou". Mantivemos o grupo unido por causa do "Abbey Road". Mas já tinha acabado. Era só o caso de que, embora já tivesse acabado, nossos cérebros não conseguiam assimilar... Nós não fomos a público imediatamente para falar da separação. Klein disse uma coisa: "Separem-se, garotos, se quiserem. Mas não digam a ninguém"."
O livro "The Beatles Anthology" será publicado em setembro pela editora Chronicle Books. Pessoas de dentro da empresa dizem que os editores pagaram uma soma alta em direitos autorais porque, embora os Beatles tenham parado de trabalhar juntos nos anos 70, o lançamento da série de TV e os CDs com sobras de estúdio e músicas inéditas "The Beatles Anthology" causaram tamanho "revival" mundial que, agora, eles estão maiores do que nunca.
Durante 95-96, os Beatles venderam oficialmente 44 milhões de CDs a mais do que haviam vendido em qualquer ano da década de 60. E, mais, a série "Anthology" foi exibida na televisão de 94 países. Durante o mesmo período, Paul, George e Ringo recusaram uma oferta para se apresentarem em 17 shows nos Estados Unidos, Alemanha e Japão, nos quais embolsariam US$ 175 milhões.
No ano passado, a Apple Corps. relançou o filme "Yellow Submarine" em vídeo e o álbum remixado. O projeto se tornou mais bem sucedido que o lançamento original, em 1968.
"Desde os anos 60, as pessoas perguntavam qual banda poderia se tornar maior do que os Beatles e, julgando pelo "revival" nos anos 90, acabou sendo os Beatles", disse a fonte da editora.
"Os Beatles são agora maiores do que os Beatles."


Tradução Rogério Andrade


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