MARCELO OROZCO
do "Notícias Populares"

Com a autobiografia, os senhores de Liverpool vão dizer o que já foi espalhado em dezenas ou centenas de livros de qualidade variável, dos sérios aos redundantes.
Antes do livro "The Beatles Anthology", o mais próximo de uma versão oficial do grupo foi "The Beatles", a biografia autorizada escrita por Hunter Davies.
O livro de Davies foi lançado em 1968, quando o quarteto ainda existia. Teve edição brasileira na época. Desde então, foi revisto e atualizado no exterior.
Pioneiro, já que antes dele nenhum livro foi muito mais longe que produto de consumo para fãs, "The Beatles" trazia detalhes e curiosidades interessantes. Como o processo de composição de várias músicas do álbum "Sgt. Pepper", visto de perto por Davies.
Mas o caráter oficialesco dava um verniz de "felizes sempre e para sempre", evitando maiores análises ou assuntos polêmicos.
Hoje sabe-se que, quando o livro saiu, os Beatles já brigavam muito por música e dinheiro. E a união de John Lennon com Yoko Ono desmentia a paz doméstica, "retratada" por Davies, do beatle com sua primeira mulher, Cynthia.
Além dessa biografia oficial, dois beatles relataram suas vidas em livro.
Em 1980, George Harrison lançou a autobiografia "I Me Mine", com edição de luxo limitada.
Nas páginas, algum ressentimento do beatle caçula, a ponto de minimizar o papel de Lennon no grupo. Ou, pelo menos, na vida de Harrison. Meses depois, o assassinato de John faria George repensar muitas coisas.
Paul McCartney registrou seu balanço dos Beatles em 1997, na biografia autorizada "Many Years from Now", escrita pelo jornalista e amigo de longa data Barry Miles.
Como os acontecimentos pós-1970 ocupam uma pequena parte resumida no final do livro, a "biografia" é a versão de McCartney para a carreira dos Beatles.
McCartney relembra bons momentos e não foge de pontos dolorosos. Mas falta o que se espera que o livro "The Beatles Anthology" consiga: cruzar o pensamento de cada beatle sobre os mesmos fatos.
Além dos livros de Davies, Harrison e Miles/McCartney, o produtor e "quinto beatle" George Martin deu sua contribuição com "Summer of Love - The Making of Sgt. Pepper" (lançado no Brasil como "Paz, Amor e Sgt. Pepper"), em 1988.
Com o foco na produção de "Sgt. Pepper" em 1967, Martin deixa escapar pareceres interessantes. Como o de que, por mais que gostasse dos quatro igualmente, preferia trabalhar com McCartney.

Outros livros
A autobiografia ainda não saiu, mas isso não significa que a história dos Beatles não tenha sido bem contada e bem organizada em outros livros.
O especialista e pesquisador Mark Lewisohn contribuiu com dois fundamentais: "The Complete Beatles Recording Sessions" (88), que disseca cada sessão de gravação, e "The Complete Beatles Chronicle" (92).
"The Beatles: a Diary" (98), de Barry Miles, é uma cronologia precisa com o cotidiano beatle até 1970.
Como Lennon não registrou seus relatos sobre os Beatles em um único livro, suas entrevistas verborrágicas são reveladoras.
O livro que mais bem organizou as declarações de Lennon foi "The Ballad of John and Yoko" (83, teve edição brasileira), compilado pela revista "Rolling Stone" com trechos de entrevistas, reportagens e textos analíticos.
A "Rolling Stone" também publicou uma biografia decente para iniciantes e "estudiosos". Escrito por Geoffrey Stokes, "The Beatles" (82, também com edição brasileira) tem texto fluente e belas fotos.
O livro menos reverente não deixa de ser uma boa referência. É "The Lives of John Lennon" (88), de Albert Goldman. Por tratar de fatos que outros evitam abordar, chegou a revoltar a comunidade rock em geral e a viúva Yoko Ono em particular.
E, se os beatles vivos acreditam que os bastidores da separação serão a grande revelação de "The Beatles Anthology", não podem esquecer que dois livros já trataram dos maus momentos.
"Apple to the Core" (72), de Peter McCabe e Robert Schonfeld, concentra-se nos últimos dias da banda e no caos financeiro de sua empresa Apple, o que provocou um desgaste enorme na amizade.
E "The Love You Make" (83), de Peter Brown (ex-assessor dos Beatles) e Steven Gaines, é o mais fofoqueiro e entrega histórias curiosas. Desde a primeira sessão de gravação na EMI ao dia em que John foi flagrado com Yoko em casa pela mulher Cynthia. Não é o tipo de material que "The Beatles Anthology" deverá trazer.


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