|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cantor francês funda grupos femininos de forró
da Reportagem Local
O pesquisador e músico francês
Claude Sicre, mentor do grupo
Fabulous Trobadors (no qual é
acompanhado pelo DJ Ange B), é
uma das figuras mais bizarras do
showbiz alternativo.
Isso porque ele não se contenta
em desenvolver pesquisas musicais totalmente alternativas, como a união de ritmos nordestinos
com o legado deixado pelos trovadores medievais.
Claude Sicre quer transformar
seu bairro, sua cidade e seu país.
Tal qual um dom Quixote social
atualizado, esse tocador de pandeiro quer que seu bairro se transforme em uma verdadeira comunidade e por isso desenvolve ali
várias atividades, como a edição
da revista "Linha Imaginòt - Revista da Grande Revolução dos
Bairros do Mundo". O nome da
revista intitula ainda seu novo
CD. Também quer que sua cidade, Toulouse, seja uma capital
cultural da França e que Paris deixe de ser o único centro do país.
Quer ainda que a França seja
mais humana: valorize suas tradições e não pasteurize sua cultura.
A relação de Claude Sicre com o
Brasil começou em 1984, quando
ele veio ao país e, na volta, acabou
levando uma escola de samba para a França: a Mocidade Independente de Padre Miguel. Depois foi
a vez do trio elétrico de Armandinho, Dodo e Osmar.
Em entrevista à Folha, Sicre falou de sua relação com a música e
a literatura brasileira e de seus novos projetos, como grupos femininos de forró.
(CF)
Folha - Você já manifestava interesse pelo Brasil no início de
sua carreira, nos anos 80. Esse
interesse continua? O que o Brasil ainda lhe oferece?
Claude Sicre - O que mais me
interessa na cultura brasileira é a
maneira como ela pode nos fazer
refletir sobre a França. Quero
adaptar um certo espírito e um
certo folclore brasileiro aqui. Estou muito mais preocupado em
transformar a França graças ao
Brasil do que em fazer pesquisas
sobre o Brasil. Não quero ser um
especialista em Brasil, mas sim
um especialista na transformação
da França.
Folha - Mas o que você encontrou no Brasil?
Sicre - O Brasil é um país extremamente plural. Isso falando de
modelos ocidentais, que são mais
fáceis de assimilar que os modelos
orientais. Mas, entre os países ocidentais, o Brasil é o país onde a
pluralidade se desenvolveu melhor. Apesar de o país não ser
muito democrático economicamente e, principalmente, politicamente, a cultura de seu povo é
muito vivaz e o deixa orgulhoso, o
que não é o caso da América hispânica.
Folha - Como surgiu esse seu
interesse pelo país?
Sicre - Ele surgiu há muito tempo, quando assisti ao filme francês "Orfeu Negro", de Marcel Camus. Depois conheci um amigo
brasileiro, Danton Canabrava Júnior, que me fez escutar a música
do Nordeste no momento em que
eu fazia pesquisas sobre o tema.
Folha - A música brasileira
sempre foi seu maior interesse?
Sicre - A música e a literatura,
embora a segunda seja a mais popular e que chega à França, como
Jorge Amado, que já veio me ver
em Toulouse e até escreveu o prefácio de um dos meus livros.
Folha - O CD "Era Pas de Faire", seu primeiro disco, apresenta muitas influências brasileiras,
mas em "On the Linha Imaginòt" as influências parecem
muito mais variadas...
Sicre - Você tem razão, mas "On
the Linha Imaginòt" foi uma
oportunidade, um acaso que não
faz parte da realidade do meu trabalho. Foram oportunidades que
o tornaram possível, mas não traz
as raízes do meu trabalho.
As minhas raízes são os emboladores, os cantores de coco, os violeiros. Agora mesmo montei dois
grupos de forró nordestino só de
mulheres aqui no meu bairro, em
Toulouse. Não canto neles, mas
faço algumas músicas e sua direção artística. Quero popularizar o
forró na França.
Folha - E existe uma competição entre elas?
Sicre - Elas funcionam como
equipes um e dois de um time de
futebol. Umas substituem as outras. Logo vou montar um terceiro grupo. Um grupo se chama
"Futeuse de Oai", pois elas eram
jogadoras de futebol, e "oai", em
"occitan" (dialeto do sul da França), significa um tipo de confusão.
O segundo grupo se chama
"Bombe du Baile".
Folha - Você já se apresentou
alguma vez no Brasil?
Sicre - Já tive alguns convites,
do Brasil e do Ministério das Relações Exteriores da França, mas
não quis. Acho que os brasileiros
é que devem vir à França. Não
acho que os franceses têm muito a
mostrar ao Brasil na área musical.
Eles deveriam escutar mais. Nós
somos alunos dos brasileiros e
não vamos posar como pop stars.
Irei agora pois fui convidado pelo
Lenine.
Texto Anterior: Trobadors pesquisa Nordeste Próximo Texto: Marcelo Coelho: Escândalos e CPIs se tornaram fatos naturais Índice
|