São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2000


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Cantor francês funda grupos femininos de forró

da Reportagem Local

O pesquisador e músico francês Claude Sicre, mentor do grupo Fabulous Trobadors (no qual é acompanhado pelo DJ Ange B), é uma das figuras mais bizarras do showbiz alternativo.
Isso porque ele não se contenta em desenvolver pesquisas musicais totalmente alternativas, como a união de ritmos nordestinos com o legado deixado pelos trovadores medievais.
Claude Sicre quer transformar seu bairro, sua cidade e seu país. Tal qual um dom Quixote social atualizado, esse tocador de pandeiro quer que seu bairro se transforme em uma verdadeira comunidade e por isso desenvolve ali várias atividades, como a edição da revista "Linha Imaginòt - Revista da Grande Revolução dos Bairros do Mundo". O nome da revista intitula ainda seu novo CD. Também quer que sua cidade, Toulouse, seja uma capital cultural da França e que Paris deixe de ser o único centro do país.
Quer ainda que a França seja mais humana: valorize suas tradições e não pasteurize sua cultura.
A relação de Claude Sicre com o Brasil começou em 1984, quando ele veio ao país e, na volta, acabou levando uma escola de samba para a França: a Mocidade Independente de Padre Miguel. Depois foi a vez do trio elétrico de Armandinho, Dodo e Osmar.
Em entrevista à Folha, Sicre falou de sua relação com a música e a literatura brasileira e de seus novos projetos, como grupos femininos de forró. (CF)

Folha - Você já manifestava interesse pelo Brasil no início de sua carreira, nos anos 80. Esse interesse continua? O que o Brasil ainda lhe oferece?
Claude Sicre -
O que mais me interessa na cultura brasileira é a maneira como ela pode nos fazer refletir sobre a França. Quero adaptar um certo espírito e um certo folclore brasileiro aqui. Estou muito mais preocupado em transformar a França graças ao Brasil do que em fazer pesquisas sobre o Brasil. Não quero ser um especialista em Brasil, mas sim um especialista na transformação da França.

Folha - Mas o que você encontrou no Brasil?
Sicre -
O Brasil é um país extremamente plural. Isso falando de modelos ocidentais, que são mais fáceis de assimilar que os modelos orientais. Mas, entre os países ocidentais, o Brasil é o país onde a pluralidade se desenvolveu melhor. Apesar de o país não ser muito democrático economicamente e, principalmente, politicamente, a cultura de seu povo é muito vivaz e o deixa orgulhoso, o que não é o caso da América hispânica.

Folha - Como surgiu esse seu interesse pelo país?
Sicre -
Ele surgiu há muito tempo, quando assisti ao filme francês "Orfeu Negro", de Marcel Camus. Depois conheci um amigo brasileiro, Danton Canabrava Júnior, que me fez escutar a música do Nordeste no momento em que eu fazia pesquisas sobre o tema.

Folha - A música brasileira sempre foi seu maior interesse?
Sicre -
A música e a literatura, embora a segunda seja a mais popular e que chega à França, como Jorge Amado, que já veio me ver em Toulouse e até escreveu o prefácio de um dos meus livros.

Folha - O CD "Era Pas de Faire", seu primeiro disco, apresenta muitas influências brasileiras, mas em "On the Linha Imaginòt" as influências parecem muito mais variadas...
Sicre -
Você tem razão, mas "On the Linha Imaginòt" foi uma oportunidade, um acaso que não faz parte da realidade do meu trabalho. Foram oportunidades que o tornaram possível, mas não traz as raízes do meu trabalho.
As minhas raízes são os emboladores, os cantores de coco, os violeiros. Agora mesmo montei dois grupos de forró nordestino só de mulheres aqui no meu bairro, em Toulouse. Não canto neles, mas faço algumas músicas e sua direção artística. Quero popularizar o forró na França.

Folha - E existe uma competição entre elas?
Sicre -
Elas funcionam como equipes um e dois de um time de futebol. Umas substituem as outras. Logo vou montar um terceiro grupo. Um grupo se chama "Futeuse de Oai", pois elas eram jogadoras de futebol, e "oai", em "occitan" (dialeto do sul da França), significa um tipo de confusão. O segundo grupo se chama "Bombe du Baile".

Folha - Você já se apresentou alguma vez no Brasil?
Sicre -
Já tive alguns convites, do Brasil e do Ministério das Relações Exteriores da França, mas não quis. Acho que os brasileiros é que devem vir à França. Não acho que os franceses têm muito a mostrar ao Brasil na área musical. Eles deveriam escutar mais. Nós somos alunos dos brasileiros e não vamos posar como pop stars. Irei agora pois fui convidado pelo Lenine.


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