São Paulo, quinta-feira, 05 de abril de 2001

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Aos 72 anos, Noite Ilustrada volta a gravar; outros lançamentos recuperam história de artistas "da antiga"

Jovem velha-guarda

"Conheci a subida e a descida, agora estou aqui embaixo, tentando subir de novo", afirma cantor mineiro

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando, no auge da mocidade e do sucesso, o mineiro Noite Ilustrada cantava os versos de Paulo Vanzolini -"reconhece a queda e não desanima/ levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima"-, não imaginava que estava falando do seu próprio futuro.
O tempo passou, a bossa nova chegou, e ele -com todos os seus pares, a partir dali denominados de "velha-guarda"- conheceu a queda. "Houve fases em que artisticamente eu tinha vontade de desistir. Mas ia fazer o quê?", indaga, do alto de seus 72 anos.
Nova subida de gangorra ele atinge agora, pelas mãos jovens da gravadora Trama e pelas experientes do produtor musical Fernando Faro (do programa de TV "Ensaio"), 64. E "Perfil de um Sambista" não evita o assunto.
Começa com a faixa-título, que o autor (já morto) Adauto Santos fez para ele: "Eu sou/ um dos poucos que restam com fama de bamba/ sou marca de um tempo (...)/ Chorei/ já caí, levantei, conheci a descida/ aprendi bem depressa as lições dessa vida/ (...) falsos amigos, falsos amores, falsa canção feita sem rima/ tudo é passado tudo acabado, é a volta por cima".
Conta Noite: "Adauto disse que havia feito essa homenagem, e quando vi não era que era mesmo um rascunho da minha vida? Entrou até um pouco da vida particular, tudo isso de falsos amigos e amores existiu mesmo. Acredito que seja assim. Já vi tantos foguetes, me admiro de Roberto Carlos estar até hoje na crista da onda".
A idéia é rejuvenescer sem piruetas o samba de vozeirão do cantor. "Os arranjos do (trombonista) Bocato e do (baixista) Sizão Machado dão uma leitura nova, no sentido de que temos uma formação que não é a orquestra de Portinho", explica Faro.
"Enraizei-me com orquestra e regional, mas aqui é outra roupagem, com um conjuntinho médio, mas muito bem colocado. Não posso opinar na parte musical, meu negócio é cantar", atalha Noite.
Faro defende a novidade em Noite: "Não acho o disco dele antigo. Tom Jobim me disse que só gravava no Brasil porque a matriz americana obrigava a PolyGram daqui a gravá-lo no Brasil. É tanta gente que não grava mais, Johnny Alf, Tito Madi...".
"...Roberto Silva, Jamelão, Paulo Marquez, Miltinho... Um bocado de colegas ficou completamente esquecido. Parece que a gente é jogador de futebol, em determinada hora nos encostam", completa Noite Ilustrada.


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