São Paulo, quinta-feira, 05 de abril de 2001

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RELÂMPAGOS

Folguedos

JOÃO GILBERTO NOLL

Ficava em euforia ao encontrar a cerca meio torta, torta a ponto de cair, inútil, indecorosa. À beira da estrada que não levava a nada, defronte ao vermelhão por onde vôos deslizavam em retirada. Euforia não pelas asas do poente, era a cerca que o fazia rir em sincronia com as ondas que vinham lá de onde guardava o tal consolo -acima, logo acima do esôfago. Doido esse calor descendo ao diafragma e dali irradiando-se todo em chamas. Ajoelhava-se diante da cerca de arames, concluindo-se numa inclinação matreira. Via, pelo rabo dos olhos, um lampejo nas farpas da cerca protetora do terreno pedregoso. Essas terras seriam devolutas? Ele bem que as merecia. Ah...!, o vapor de junho a sair da boca. As palavras tiritantes, murchas. O silêncio, o sono...


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