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RELÂMPAGOS
Folguedos
JOÃO GILBERTO NOLL
Ficava em euforia ao encontrar a cerca meio torta,
torta a ponto de cair, inútil,
indecorosa. À beira da estrada que não levava a nada, defronte ao vermelhão por onde
vôos deslizavam em retirada.
Euforia não pelas asas do
poente, era a cerca que o fazia
rir em sincronia com as ondas que vinham lá de onde
guardava o tal consolo -acima, logo acima do esôfago.
Doido esse calor descendo ao
diafragma e dali irradiando-se todo em chamas. Ajoelhava-se diante da cerca de arames, concluindo-se numa inclinação matreira. Via, pelo
rabo dos olhos, um lampejo
nas farpas da cerca protetora
do terreno pedregoso. Essas
terras seriam devolutas? Ele
bem que as merecia. Ah...!, o
vapor de junho a sair da boca.
As palavras tiritantes, murchas. O silêncio, o sono...
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