CRÍTICO DA FOLHA

O fato de a indústria cultural americana, especialmente a cinematográfica, viver sob o império da mesmice não chega a constituir nenhuma novidade. Foi contando as mesmas histórias com novas roupagens ou pequenas variações que Hollywood pôde administrar, ao longo dos anos, sua imensa massa de consumidores.
Parte desse patrimônio nasceu da espoliação da herança cultural européia oitocentista, na qual incluímos as histórias de Alexandre Dumas pai ("Os Três Mosqueteiros" e "O Homem da Máscara de Ferro"), encenadas e reencenadas por Hollywood desde o começo do século passado, quando já eram antiquadas, até hoje, quando voltam à ordem do dia.
Talvez nada dê mais conta da decadência de Hollywood do que um filme como "A Vingança do Mosqueteiro", nova versão da história de D'Artagnan que entra em cartaz na cidade. O processo de degradação dessas velhas histórias é mais ou menos inevitável, tanto mais pelo fato de os americanos não conseguirem nelas explorar senão aquilo que diz respeito ao "sentido da ação".
A única atração do filme de "capa-espada" "A Vingança do Mosqueteiro" é um técnico chinês, Xin Xin Xiong, coreógrafo de cenas de ação que traz o know-how dos acrobáticos filmes produzidos em Hong Kong.
É bem verdade que Hollywood não erigiu seu império importando apenas velhas histórias, mas também técnicos e técnicas. Mas a colaboração entre Xiong e o diretor Peter Hyams, cineasta americano especializado em filmes de ação, não ratifica apenas o intercâmbio técnico-mercadológico entre Hollywood e Hong Kong. Massacrando apressadamente as situações de seu roteiro em favor das cenas de luta de Xiong, Hyams demonstra a disposição dos americanos em renovar, por meio dos chineses, a técnica que era tida como especialidade sua.
(TIAGO MATA MACHADO)

A Vingança do Mosqueteiro
The Musketeer  
Direção: Peter Hyams
Produção: EUA/Alemanha/ Luxemburgo, 2001
Com: Justin Chambers, Tim Roth
Quando: a partir de hoje nos cines Center Norte, Eldorado e circuito