São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Crítica

Davies leva Osesp da leveza à tormenta

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Ano passado foi John Corigliano. Antes disso, vieram Penderecki e Tan Dun, entre outros destaques da música contemporânea na programação da Osesp. Em 2009, será a vez de Sofia Gubaidulina. E quinta-feira era sir Peter Maxwell Davies (1934) quem subia ao pódio da Sala São Paulo, para reger duas peças de sua autoria, além de sinfonias de Mozart (1756-91) e Haydn (1732-1809), que eles repetem hoje à tarde.
Vibrante, sorridente, elétrico, sir Peter tem uma carreira de distinção como regente, muito mais por reger suas próprias obras do que por pretensões de maestro.
Rege com clareza, sem batuta; e sempre sabe exatamente o que quer. Já era assim em fins dos anos 60, quando surgiu no panorama como "enfant terrible" da música inglesa -expressão que virou clichê a seu respeito, mas não deixa de ser verdade.
Na época, ele era "Max" e formava um triunvirato com outros compositores de Manchester, Alexander Goehr e Harrison Birtwistle.
Excursionou mundo afora, para apresentar suas peças de "music-theater", como "Eight Songs For a Mad King" (que ele trouxe inclusive a São Paulo). Era um tropicalismo europeu na música de concerto: Handel e Beatles, Schumann e foxtrote, combinados em drama, com ou sem palavras. Na música de Maxwell Davies, as lições modernistas do "Pierrot" de Schoenberg nutriam o teatro absurdo de Harold Pinter; e o grande Britten (1913-76) parecia ter encontrado o seu sucessor.
Sir Peter, morando há 30 anos no isolamento das ilhas Orkney, na Escócia, galgou todos os patamares de reconhecimento oficial, mas sua música há muito deixou de ter o impacto que já teve. Dos três, Birtwistle -hoje sir Harrison- foi provavelmente quem melhor cumpriu o destino de juventude, compondo uma obra sempre pessoal e sempre nova. "Mavis in Las Vegas" (1997), primeira peça no concerto da Osesp, assume-se como abertura leve. Ironiza a cultura brega, com referências a Liberace, Elvis Presley. Com Maxwell Davies, as coisas nunca são menos do que engenhosamente orquestradas; e aqui ele tem um prato cheio, saltando de quadro em quadro como num curta alternativo. O resultado convencerá ou não na mesma medida do humor: "funny" ou "silly"?
Já o "Strathclyde Concerto" (1996) não tem nada de bobo. Último de uma série de dez concertos escritos para a Scottish Chamber Orchestra, faz uma espécie de retrato sonoro das tormentosas Ilhas Orkney, com sugestivos nevoeiros. Só quando afinal se escuta um tema "folk", passando do piccolo ao contrabaixo, à viola e ao violino, que a pressão do que vem de fora parece engolir o que vem de dentro. Passada a tormenta, a música amanhece esmaecida na memória -sem diminuir as virtudes da orquestra, em ótima forma, e sem ofender a imagem de sir Peter, que segue sendo uma das imagens da música do nosso tempo.


PETER MAXWELL DAVIES - OSESP
Onde:
Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, tel. 0/xx/11/3223-3966)
Quando: hoje, às 16h30
Quanto: de R$ 28 a R$ 98
Avaliação: bom


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