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Crítica
Davies leva Osesp da leveza à tormenta
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Ano passado foi John
Corigliano. Antes
disso, vieram Penderecki e Tan Dun, entre outros destaques da música
contemporânea na programação da Osesp. Em 2009,
será a vez de Sofia Gubaidulina. E quinta-feira era sir Peter Maxwell Davies (1934)
quem subia ao pódio da Sala
São Paulo, para reger duas
peças de sua autoria, além de
sinfonias de Mozart (1756-91) e Haydn (1732-1809), que
eles repetem hoje à tarde.
Vibrante, sorridente, elétrico, sir Peter tem uma carreira de distinção como regente, muito mais por reger
suas próprias obras do que
por pretensões de maestro.
Rege com clareza, sem batuta; e sempre sabe exatamente o que quer. Já era assim
em fins dos anos 60, quando
surgiu no panorama como
"enfant terrible" da música
inglesa -expressão que virou clichê a seu respeito, mas
não deixa de ser verdade.
Na época, ele era "Max" e
formava um triunvirato com
outros compositores de
Manchester, Alexander
Goehr e Harrison Birtwistle.
Excursionou mundo afora,
para apresentar suas peças
de "music-theater", como
"Eight Songs For a Mad
King" (que ele trouxe inclusive a São Paulo). Era um tropicalismo europeu na música de concerto: Handel e
Beatles, Schumann e foxtrote, combinados em drama,
com ou sem palavras. Na música de Maxwell Davies, as lições modernistas do "Pierrot" de Schoenberg nutriam
o teatro absurdo de Harold
Pinter; e o grande Britten
(1913-76) parecia ter encontrado o seu sucessor.
Sir Peter, morando há 30
anos no isolamento das ilhas
Orkney, na Escócia, galgou
todos os patamares de reconhecimento oficial, mas sua
música há muito deixou de
ter o impacto que já teve. Dos
três, Birtwistle -hoje sir
Harrison- foi provavelmente quem melhor cumpriu o
destino de juventude, compondo uma obra sempre pessoal e sempre nova.
"Mavis in Las Vegas"
(1997), primeira peça no
concerto da Osesp, assume-se como abertura leve. Ironiza a cultura brega, com referências a Liberace, Elvis
Presley. Com Maxwell Davies, as coisas nunca são menos do que engenhosamente
orquestradas; e aqui ele tem
um prato cheio, saltando de
quadro em quadro como
num curta alternativo. O resultado convencerá ou não
na mesma medida do humor:
"funny" ou "silly"?
Já o "Strathclyde Concerto" (1996) não tem nada de
bobo. Último de uma série de
dez concertos escritos para a
Scottish Chamber Orchestra, faz uma espécie de retrato sonoro das tormentosas
Ilhas Orkney, com sugestivos nevoeiros. Só quando afinal se escuta um tema "folk",
passando do piccolo ao contrabaixo, à viola e ao violino,
que a pressão do que vem de
fora parece engolir o que
vem de dentro. Passada a tormenta, a música amanhece
esmaecida na memória
-sem diminuir as virtudes
da orquestra, em ótima forma, e sem ofender a imagem
de sir Peter, que segue sendo
uma das imagens da música
do nosso tempo.
PETER MAXWELL DAVIES - OSESP
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, tel. 0/xx/11/3223-3966)
Quando: hoje, às 16h30
Quanto: de R$ 28 a R$ 98
Avaliação: bom
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