Sai nos Estados Unidos compilação que reúne produções de Andy Warhol e outros

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Kevin Costner, que já viu melhores dias e filmes, disse certa vez que não ligava para críticas.
"Afinal, não faço filmes que são de vanguarda ou incompreensíveis". Para os que não pensam como o ator de "Promessas de um Cara-de-Pau" (2008), acaba de sair nos EUA "Treasures IV: American Avant Garde Film 1947-1986".
A quarta caixa da série da National Film Preservation Foundation, criada pelo Congresso em 1996 e baseada em San Francisco, na Califórnia, reúne alguns dos mais importantes nomes norte-americanos dessa forma de expressão cinematográfica, cujo exemplar historicamente mais conhecido talvez seja "Um Cão Andaluz", obra-prima de 1929 de Luis Buñuel (1900-1983) e de Salvador Dalí (1904-1989).
Todos compreensíveis, são 26 filmetes, com durações que vão de 3 minutos a 36 minutos, num total de pouco mais de 5 horas, o mais antigo dos anos 40 ("By Night with Torch and Spear", de Joseph Cornell), o mais recente de 1986 ("Fake Fruit Factory", de Chick Strand). O grosso da amostragem, no entanto, é dos anos 60, o auge do movimento de contracultura nos EUA, onde a produção desse tipo de cinema encontrou porto seguro.
É dessa confluência, por exemplo, que sai o autor mais conhecido do grande público entre os presentes na caixa, o americano de ascendência eslovaca Andy Warhol (1928-1987). É dele "Mario Banana (No.1)", curta colorido de 4 minutos de 1964, parte dos mais de 600 filmes feitos pelo rei da pop art entre 1963 e 1976.
Por 240 excruciantes segundos, o espectador assiste o performer Mario Montez descascar e degustar uma banana. A lente está parada o tempo todo em close-up, não há som, e o artista usa luvas, maquiagem, tiara e peruca. Se é o título mais facilmente identificável do conjunto, não é o melhor.
Quem leva o troféu é "Go! Go! Go!", curta de 11 minutos feito entre 1962 e 1964 em velocidade alterada, um dos grandes registros em filme da ilha de Manhattan.
A autora é Marie Menken, casada com Willard Maas -a dupla de intelectuais teria servido de inspiração ao dramaturgo Edward Albee para os personagens Martha e George de "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1962). Morreram em 1970, ela primeiro, ele quatro dias depois.
Restaurados com dinheiro federal, os filmes são em sua maioria inéditos em DVD -alguns inéditos mesmo em exibição pública digna desse nome.
Como escreve Martin Scorsese no livro de apresentação da caixa, no auge do movimento de vanguarda muitas vezes "os filmes eram exibidos em lofts, em cafeterias, em quintais".
Por fim, não passará despercebida pelo espectador a ironia de que uma vertente do cinema tão importante para o meio como os musicais ou os westerns só chegue ao DVD num momento em que o suporte parece caminhar para a extinção.