CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Com um estilo sarcástico que expõe os vícios contemporâneos, sobretudo aqueles travestidos de virtudes, o escritor Chuck Palahniuk ganhou espaço e atenção. Logo o cinema se interessou por suas provocações, e a habilidade do diretor David Fincher soube transformar aquela literatura de provocação em um filme à altura com "Clube da Luta".
"Choke" é outra experiência.
Nas mãos de um diretor ingênuo (Clark Gregg), o catálogo de perversões que Palahniuk dispara no colo de seu leitor e se transforma num amontoado de bizarrices, escatologias e humor sem graça de adolescentes.
Livro e filme se concentram na personagem de Victor, que se apresenta como um viciado em sexo que busca aventuras em encontros de adictos anônimos. "O orgasmo libera endorfina, e esta ameniza a dor", defende-se sem pudor. Ao lado do amigo Denny, trabalham numa fazenda que serve para mais gozação, dessa vez aos ideais puritanos da sociedade americana.
Victor tem também uma mãe, Ida (Anjelica Huston, com cara de meu-deus-como-eu-vim-parar-neste-filme?), em fase intermediária de demência provocada pelo mal de Alzheimer. No trato com a mãe, seremos apresentados à infância de Victor e à origem de seu truque de se fingir engasgar (daí o "Choke" do título) para receber atenções especiais.
A sucessão desses temas nas mãos de Palahniuk rende uma comicidade politicamente incorreta que não deixa de ser salutar. "Choke", o filme, no entanto, desperdiça o humor picaresco do escritor ao colocar suas palavras na imagem de modo demasiado literal. E o que se vê é uma sucessão de piadas das quais é difícil rir.