São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Coleção Folha terá "Gata em Teto de Zinco Quente"

Elizabeth Taylor e Paul Newman protagonizam filme

DA REPORTAGEM LOCAL

A obra do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams (1911-1983) foi matéria-prima para alguns dos mais importantes filmes produzidos por Hollywood nas décadas de 40 e 50 -dentre eles, "Gata em Teto de Zinco Quente", quarto volume da Coleção Folha Clássicos do Cinema, que chega às bancas no próximo domingo.
Montado pela primeira vez na Broadway em 1955, com Barbara Bel Geddes e Ben Gazarra nos papéis principais, o texto chegou aos cinemas três anos depois, em 1958, com produção da MGM. Da montagem original, o estúdio aproveitou apenas Burl Ives e Madeleine Sherwood, que interpretam o patriarca da família Pollit e sua nora, Mae. Para viver o casal de protagonistas, Brick e Maggie, foram convocados Paul Newman e Elizabeth Taylor, duas jovens estrelas em ascensão.
A montagem da Broadway teve como diretor Elia Kazan, que sete anos antes levara para o cinema o texto mais conhecido de Williams, "Um Bonde Chamado Desejo", que ele também havia dirigido na Broadway, com Marlon Brando.
Mas a montagem de "Gata em Teto de Zinco Quente" não foi tão harmoniosa. Kazan se desentendeu seriamente com Tennessee Williams devido aos rumos do terceiro ato e, com a relação desgastada, preferiu recusar a oferta da MGM. Em seu lugar, entrou Richard Brooks, diretor que, um ano antes, havia assinado elogiada adaptação de "Os Irmãos Karamazov".
Outros motivos, no entanto, podem ter influenciado a decisão de Kazan. Hollywood vivia anos atribulados. Em 1952, o cineasta prestou um controvertido depoimento para o Comitê de Atividades Antiamericanas, instituído pelo senador McCarthy, que investigava o envolvimento de profissionais do cinema no Partido Comunista. Kazan denunciou vários nomes, uma atitude que lhe custaria muitos anos de rejeição entre colegas da indústria.
Paralelamente, os filmes eram rigorosamente vigiados pelo chamado "Código Hayes" -uma série de regras de produção de cunho extremamente moralista que impedia, por exemplo, a abordagem de certos temas e determinava até mesmo a forma com que certas cenas -de amor, por exemplo- deveriam ser filmadas.
Para desgosto de Tennessee Williams, a adaptação de "Gata em Teto de Zinco Quente" foi bastante afetada pelo código. Basicamente, o texto conta a história de Brick, um homossexual reprimido que afoga suas mágoas no álcool e na forma fria e agressiva com que trata a mulher, Maggie.
Toda a insinuação de homossexualismo foi atenuada no roteiro, escrito por James Poe e pelo diretor Richard Brooks. No filme, a rejeição de Brick a Maggie pode perfeitamente ser lida apenas como uma reação à sua possível infidelidade com o melhor amigo de Brick.
Apesar disso, "Gata em Teto de Zinco Quente" mantém sua força como uma franca e contundente exposição da hipocrisia que mora no interior de uma família conservadora americana. A ação se passa durante a festa de comemoração dos 65 anos do patriarca e magnata "Bid Daddy", que está com câncer terminal e não sabe disso. Durante a festa, diálogos explosivos trazem à tona os escusos interesses do primogênito, bem como a decadência da relação de Brick e Maggie. São relações familiares em ruínas, desgastadas pela falsidade.
Indicado para seis Oscars, incluindo todas as categorias principais, "Gata em Teto de Zinco Quente" acabou não levando nenhum -o que só reforça o medo que pairava sobre Hollywood naqueles anos em torno de temas mais ousados.


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