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Coleção Folha terá "Gata em Teto de Zinco Quente"
Elizabeth Taylor e Paul Newman protagonizam filme
DA REPORTAGEM LOCAL
A obra do dramaturgo norte-americano Tennessee Williams (1911-1983) foi matéria-prima para alguns dos mais importantes filmes produzidos
por Hollywood nas décadas de
40 e 50 -dentre eles, "Gata em
Teto de Zinco Quente", quarto
volume da Coleção Folha Clássicos do Cinema, que chega às
bancas no próximo domingo.
Montado pela primeira vez
na Broadway em 1955, com
Barbara Bel Geddes e Ben Gazarra nos papéis principais, o
texto chegou aos cinemas três
anos depois, em 1958, com produção da MGM. Da montagem
original, o estúdio aproveitou
apenas Burl Ives e Madeleine
Sherwood, que interpretam o
patriarca da família Pollit e sua
nora, Mae. Para viver o casal de
protagonistas, Brick e Maggie,
foram convocados Paul Newman e Elizabeth Taylor, duas
jovens estrelas em ascensão.
A montagem da Broadway
teve como diretor Elia Kazan,
que sete anos antes levara para
o cinema o texto mais conhecido de Williams, "Um Bonde
Chamado Desejo", que ele também havia dirigido na Broadway, com Marlon Brando.
Mas a montagem de "Gata
em Teto de Zinco Quente" não
foi tão harmoniosa. Kazan se
desentendeu seriamente com
Tennessee Williams devido aos
rumos do terceiro ato e, com a
relação desgastada, preferiu recusar a oferta da MGM. Em seu
lugar, entrou Richard Brooks,
diretor que, um ano antes, havia assinado elogiada adaptação de "Os Irmãos Karamazov".
Outros motivos, no entanto,
podem ter influenciado a decisão de Kazan. Hollywood vivia
anos atribulados. Em 1952, o cineasta prestou um controvertido depoimento para o Comitê
de Atividades Antiamericanas,
instituído pelo senador
McCarthy, que investigava o
envolvimento de profissionais
do cinema no Partido Comunista. Kazan denunciou vários
nomes, uma atitude que lhe
custaria muitos anos de rejeição entre colegas da indústria.
Paralelamente, os filmes
eram rigorosamente vigiados
pelo chamado "Código Hayes"
-uma série de regras de produção de cunho extremamente
moralista que impedia, por
exemplo, a abordagem de certos temas e determinava até
mesmo a forma com que certas
cenas -de amor, por exemplo- deveriam ser filmadas.
Para desgosto de Tennessee
Williams, a adaptação de "Gata
em Teto de Zinco Quente" foi
bastante afetada pelo código.
Basicamente, o texto conta a
história de Brick, um homossexual reprimido que afoga suas
mágoas no álcool e na forma
fria e agressiva com que trata a
mulher, Maggie.
Toda a insinuação de homossexualismo foi atenuada no roteiro, escrito por James Poe e
pelo diretor Richard Brooks.
No filme, a rejeição de Brick a
Maggie pode perfeitamente ser
lida apenas como uma reação à
sua possível infidelidade com o
melhor amigo de Brick.
Apesar disso, "Gata em Teto
de Zinco Quente" mantém sua
força como uma franca e contundente exposição da hipocrisia que mora no interior de
uma família conservadora
americana. A ação se passa durante a festa de comemoração
dos 65 anos do patriarca e magnata "Bid Daddy", que está com
câncer terminal e não sabe disso. Durante a festa, diálogos explosivos trazem à tona os escusos interesses do primogênito,
bem como a decadência da relação de Brick e Maggie. São relações familiares em ruínas,
desgastadas pela falsidade.
Indicado para seis Oscars, incluindo todas as categorias
principais, "Gata em Teto de
Zinco Quente" acabou não levando nenhum -o que só reforça o medo que pairava sobre
Hollywood naqueles anos em
torno de temas mais ousados.
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