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RELÂMPAGOS
Ninguém
JOÃO GILBERTO NOLL
Havia um olhar sem dono
flutuando entre os móveis e o
lustre... entre os quadros e o
pó que uma faixa de sol alumiava. De fato, havia por ali
um olhar submerso, meio entorpecido talvez por uma preciosa compaixão de tudo e
nada, invisível por entre pupilas esfuziantes, diria que espumantes. Esse olhar parecia
uma inseminação atávica naquela reunião de ilustres. Dominado por seu apelo vago,
entrei no banheiro para lavar
as mãos, não sei... como que
para selar o surto de exclusão
que me acendia. Vi um corpo
a se banhar atrás da cortina.
"Quem é?", escutei. Balbuciei:
"Ninguém". E fui me esgueirando para a porta de serviço.
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