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CINEMA ESTRÉIA
"Aimée e Jaguar" fazem amor histérico e suicida
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
A piada é corrente em Berlim há
algumas décadas. Para cair nas
graças da seleção do seu festival
de cinema basta que o candidato
apresente um filme de temática
judia ou gay.
Se conseguir juntar ambas as
fórmulas numa mesma produção, então, é a glória. "Aimée e Jaguar" conseguiu.
E foi coberto de glórias pelo festival com seus compreensíveis
complexos de mea-culpa: foi o filme de abertura em 1999 e contemplou a dupla Maria Schrader
(Jaguar) e Juliane Köhler (Aimée)
como melhores atrizes.
"Aimée e Jaguar" é polêmico e
incômodo, com tórridas cenas de
amor. Reconstitui o caso verídico
de paixão entre duas mulheres na
Berlim de 1943, em plena Segunda
Guerra Mundial. Paixão que
acontece entre uma dona-de-casa
alemã, mãe de quatro filhos, mulher de um oficial nazista, e uma
judia da resistência, na semiclandestinidade e em papel duplo como secretária na redação de um
jornal fascista.
Prato cheio para as platéias GLS
pouco interessadas no contexto. É
um filme sobre a guerra, pela ótica alemã, com uma série de pontos negativos para quem não está
acostumado a ler história do ponto de vista de vilões, predadores
ou perdedores.
Não é fácil adaptar a consciência à visão de lares, lazeres e trabalho dentro de uma Alemanha movida pelo ódio e alimentada do
massacre de milhões de outros
povos.
Também não é fácil acompanhar a razão de uma mulher apaixonada por outra, capaz de abandonar quatro filhos em plena
guerra, já em clima de derrota e
sob bombardeios. Não dá para
elevá-las à condição de heroínas
da resistência só por serem um
desafio de consciência gay.
Afinal, o machismo nunca deixou de superestimar a estética homossexual feminina nos círculos
do poder em Berlim, mesmo em
tempos de guerra.
A casa cai quando Jaguar tem
revelada a sua origem étnica, pois
sua homossexualidade era pública e sem travas.
O ponto positivo do filme do estreante Max Färberböck está na
tentativa de ilustrar como as elites
se comportavam para esquecer a
barbárie que as cercava e asfixiava
cada vez mais.
A sedução e a paixão tem vieses
histéricos muito compreensíveis
no seu tempo. O desafio suicida,
kamikaze, igualmente. É o que Aimée e Jaguar fazem -um amor
histérico e suicida para esquecer
os pavores da guerra.
Na história real Jaguar (Felice
Schragenheim) desaparece para
sempre depois de presa pela Gestapo.
Aimée (Juliane Köhler) dá proteção a mais judeus em fuga, tenta
o suicídio em 1949, tem outro casamento heterossexual fracassado e acaba convertendo um filho
à religião judaica.
Aos 87 anos continua guardando detalhes de sua correspondência de amor com Jaguar em duas
malas que serão entregues a seu
filho, em Israel, depois de morta.
Pela natureza do destino, a sua
história tem menos interesse do
que a de sua amada Felice Schragenheim. A memória de Jaguar
está no lastro coletivo do holocausto. Não em duas malas de recordações pessoais e trocas de juras de amor escapista.
Avaliação:
Filme: Aimée & Jaguar (De Ojos Bien Cerrados)
Diretor: Max Färberböck
Produção: Alemanha, 1999
Com: Maria Schrader, Juliane Kohler
Quando: a partir de hoje, no cine Top Cine 2
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