São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2001

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Produtor Jairo Pires revelou Tim Maia

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos produtores de "Mensageiro da Paz", Jairo Pires é mais um dos vários homens de disco que fizeram a cara da MPB dos anos 60 e 70 e, em meados dos 80, foram ejetados da indústria fonográfica nacional.
Egresso da jovem guarda -como de resto todo o movimento black music que grassou no Brasil nos anos 70-, Pires trabalhou com Tim Maia, soulman nš 1 do Brasil, durante 11 anos entrecortados, desde seu primeiro compacto, em 68, pela CBS (hoje Sony).
Convidado por André Midani a ser diretor artístico do selo Polydor, da Philips (hoje Universal), coordenou em 70 a produção do primeiro LP de Tim, que trazia "Primavera", "Azul da Cor do Mar" e "Coroné Antônio Bento".
"Manuel Barenbein (produtor dos discos tropicalistas) dirigia o selo Phonogram e eu, o Polydor, que reunia o elenco mais popular da gravadora", lembra.
Sob a égide da Polydor, encheu o mercado de astros "jóia" (uma das designações para o que hoje se conhece como brega) como Odair José, Diana, Evaldo Braga, Sidney Magal, Peninha, Fafá de Belém.
Ao mesmo tempo, esteve por trás do levante soul dos 70, trabalhando com Erasmo Carlos, Diagonais, Cassiano e Hyldon e produzindo o arrojado projeto soul-MPB "Wanderléa Maravilhosa" (72), da ex-musa iê-iê-iê.
No final dos 70, voltou à CBS, onde fez emergir uma nova geração nordestina, dos agrestes Zé Ramalho, Fagner, Elba Ramalho, Amelinha. "Fui chamado de louco. A PolyGram (a junção entre Polydor e Phonogram) era absoluta com os baianos, e a EMI, com os mineiros. Partimos para essa vertente, que deu o maior pé."
Numa última volta à hoje Universal, atuou na revelação, na virada dos 70 para os 80, de Angela Ro Ro e Eduardo Dusek e produziu o antológico LP "Erasmo Carlos Convida..." (80).
Nos 80, foi sócio de Erasmo num dos primeiros selos independentes brasileiros, Lança, pela qual editou "O Descobridor dos Sete Mares" (83), de Tim, e LPs de Paulo Diniz, Walter Franco, Vital Farias e Paulinho Boca de Cantor.
Fala da troca de comando nas gravadoras, que no meio dos 80 substituíram homens de disco por executivos vindos de empresas como a Coca-Cola numa filosofia que predomina até hoje.
"Não entendo por que tiraram pessoas como Roberto Menescal, Manuel Barenbein e Roberto Sant'Ana, que conheciam profundamente música brasileira. Éramos produtores também, conhecíamos todos os segmentos e abríamos o leque. Não se vê mais diretor artístico viajando pelo país, indo aos lugares certos na noite. Ele perdeu o poder, hoje é subordinado ao marketing. Por quê? Também me pergunto", critica.
Seu trabalho com King Combo na Continental segue no nicho a que ficaram confinados Jairo e seus pares: o de produtores free-lance de artistas iniciantes e/ou projetos saudosistas. (PAS)



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