DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Às vezes, é duro constatar que nada mudou. Diante de um cenário de esperanças, quando os países desenvolvidos se reuniam no Rio de Janeiro para a Eco-92, uma equipe da TVE britânica resolveu documentar o nascimento de sete crianças ao redor do mundo. O objetivo: ver o que aconteceria a elas em dez anos a partir das promessas firmadas na conferência.
À carioca Rosa Maria, filha de uma faxineira de motel da Rocinha, nada aconteceu no período. Desde que o pai a abandonou, logo após seu nascimento, tudo o que a garota teve foi a ajuda de um locutor de uma rádio comunitária para construir um parquinho improvisado e ensiná-la a catar alguns milhos no computador. O desejo de ter uma piscina e um quarto só para ela fica atrás apenas do sonho de, algum dia, poder voltar da escola tranquila sem o risco de levar uma bala perdida.
Armas são também a preocupação da mãe de Erdo, nascido em uma comunidade de pastoreio nômade do Quênia. Em um continente devastado pelas guerras tribais e pela corrupção generalizada no governo e nas Forças Armadas, ela diz acreditar que o único modo de o filho ter algum sucesso na vida é mandando-o para a escola. Erdo, pequenino, concorda. Mas por outro motivo: lá, a merenda é garantida.
Assim, sem muitas firulas de edição e dispensando os melodramas baratos, "Crianças do Rio" é um documentário eficaz não só para registrar a falta de ações concretas contra a miséria e a favor do ambiente como também uma forma de humanizar os problemas com que nos deparamos todos os dias nos jornais: o trabalho infantil na Índia, a poluição na China, as desigualdades e as epidemias de Aids na África do Sul, o desemprego na Inglaterra...
A conclusão do documentário de que nada mudou nem mudará nos próximos dez anos é descartada, em tom sério, por Hayley, filha de um minerador inglês desempregado e que "não dá muita bola para noticiários". Como será o mundo quando você crescer?, pergunta o repórter: "Mais inteligente", resume a garota.