São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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FEMINICES

Telespectadoras criticam os estereótipos e o elitismo dos canais a cabo

TV para moças divide público-alvo

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Os programas femininos dos canais a cabo, dirigidos a mulheres modernas -aquelas que trabalham, cuidam da casa e ainda conseguem ler o noticiário e comprar cosméticos-, dividem a opinião das moças que são seu público-alvo. De um lado, estão mulheres que vêem na programação da TV paga uma alternativa mais "inteligente" aos programas matutinos "estilo Ana Maria Braga". Do outro, as que consideram a programação, teoricamente voltada a elas, estereotipada e elitista.
"Os programas para mulheres da TV aberta não falam comigo. Quando vejo um programa do GNT, acho que tem mais a ver com a minha vida", diz a agrônoma Daniela de Paula, 33, espectadora assídua de programas femininos da TV fechada.
Apesar de aprovar a programação dirigida para mulheres como ela, que é solteira, trabalha em uma ONG e mora sozinha em Brasília, Daniela critica o programa "Mulher Procura", série nacional de documentários exibidos pelo GNT que mostra o cotidiano de mulheres sem namorado. "Aquilo é um insulto. Mulher solteira procura o quê? Como todo mundo, procura a felicidade, mas a felicidade não está ligada a ter um homem. O programa reforça o estereótipo de que toda solteira é uma desesperada."
Mônica Baraúna, 37, casada, mãe de dois filhos, não se sente insultada pelas mulheres casadas que são mostradas nos programas a cabo. "Acho que a programação é autêntica. Os programas femininos da TV aberta são deprimentes. Já os da TV fechada, como o "Saia Justa", têm uma linguagem mais parecida com a de mulheres como eu. É o tipo de programação a que você assiste sem culpa", diz. "Não é só dedicado àquela dona-de-casa que não pensa sobre o mundo."
A veterinária Rachel Pinton, 33, discorda. "Acho que a mulher mostrada pelos programas de TV a cabo é estereotipada. Na minha cabeça, aquilo ali parece que é feito para uma mulher perua, que só pensa em se vestir, ser vaidosa, cuidar dos filhos e dar uma olhada muito superficial no mundo. Sabe leitora de revista feminina fútil que lê uma reportagem e acha que assim já se informou?", questiona. Outro problema da programação, diz ela, é ser elitista. "Você pode perceber que as mulheres que aparecem sempre têm grana, são vaidosas e arrumadas."
Por se incomodar com a mulher estereotipada da TV a cabo, a produtora Anita Castanheira, 25, mal assiste aos programas. "Começo a ver e me dá preguiça. Não gosto de coisas dirigidas a nichos, principalmente quando o assunto é mulher. Parece que eles dividem a mulher entre "a casada", "a perua" e "a solteira". Não concordo com esse tipo de rótulo. Toda mulher é um pouco de tudo." Irritada ao se ver catalogada, prefere mudar de canal e assistir a um bom filme.

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