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FEMINICES
Telespectadoras criticam os estereótipos e o elitismo dos canais a cabo
TV para moças divide público-alvo
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Os programas femininos dos
canais a cabo, dirigidos a mulheres modernas -aquelas que trabalham, cuidam da casa e ainda
conseguem ler o noticiário e comprar cosméticos-, dividem a
opinião das moças que são seu
público-alvo. De um lado, estão
mulheres que vêem na programação da TV paga uma alternativa
mais "inteligente" aos programas
matutinos "estilo Ana Maria Braga". Do outro, as que consideram
a programação, teoricamente voltada a elas, estereotipada e elitista.
"Os programas para mulheres
da TV aberta não falam comigo.
Quando vejo um programa do
GNT, acho que tem mais a ver
com a minha vida", diz a agrônoma Daniela de Paula, 33, espectadora assídua de programas femininos da TV fechada.
Apesar de aprovar a programação dirigida para mulheres como
ela, que é solteira, trabalha em
uma ONG e mora sozinha em
Brasília, Daniela critica o programa "Mulher Procura", série nacional de documentários exibidos
pelo GNT que mostra o cotidiano
de mulheres sem namorado.
"Aquilo é um insulto. Mulher solteira procura o quê? Como todo
mundo, procura a felicidade, mas
a felicidade não está ligada a ter
um homem. O programa reforça
o estereótipo de que toda solteira
é uma desesperada."
Mônica Baraúna, 37, casada,
mãe de dois filhos, não se sente insultada pelas mulheres casadas
que são mostradas nos programas a cabo. "Acho que a programação é autêntica. Os programas
femininos da TV aberta são deprimentes. Já os da TV fechada,
como o "Saia Justa", têm uma linguagem mais parecida com a de
mulheres como eu. É o tipo de
programação a que você assiste
sem culpa", diz. "Não é só dedicado àquela dona-de-casa que não
pensa sobre o mundo."
A veterinária Rachel Pinton, 33,
discorda. "Acho que a mulher
mostrada pelos programas de TV
a cabo é estereotipada. Na minha
cabeça, aquilo ali parece que é feito para uma mulher perua, que só
pensa em se vestir, ser vaidosa,
cuidar dos filhos e dar uma olhada muito superficial no mundo.
Sabe leitora de revista feminina
fútil que lê uma reportagem e
acha que assim já se informou?",
questiona. Outro problema da
programação, diz ela, é ser elitista.
"Você pode perceber que as mulheres que aparecem sempre têm
grana, são vaidosas e arrumadas."
Por se incomodar com a mulher
estereotipada da TV a cabo, a produtora Anita Castanheira, 25, mal
assiste aos programas. "Começo a
ver e me dá preguiça. Não gosto
de coisas dirigidas a nichos, principalmente quando o assunto é
mulher. Parece que eles dividem a
mulher entre "a casada", "a perua" e
"a solteira". Não concordo com esse tipo de rótulo. Toda mulher é
um pouco de tudo." Irritada ao se
ver catalogada, prefere mudar de
canal e assistir a um bom filme.
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