CRÍTICO DA FOLHA

Howard Hughes era um apaixonado por mulheres e por aviões. Talvez um pouco mais por aviões. De todo modo, em ambos os casos havia um aspecto aerodinâmico que o interessava bastante a ponto de desenhar pessoalmente certos trajes de Jane Russell, em "O Proscrito".
Em "Anjos do Inferno", seu gosto pelo erotismo está presente nas reveladoras blusas de Jean Harlow, a única mulher, a rigor, do filme. E Harlow se aproveitará bastante dessa circunstância, flertando com um e com outro, enganando sem nenhum remorso o tonto do noivo.
Fiquemos um segundo nesse aspecto, pois o filme narra, a rigor, a história de dois irmãos: um malandro e um certinho. O certinho é o noivo. O malandro é o que transa com a garota e avisa ao irmão para não confiar tão cegamente na garota.
Com a guerra, ambos se engajam na Força Aérea britânica e o filme segue outros rumos, os melhores: as batalhas aéreas, sobretudo uma envolvendo um zepelim alemão, são realmente fortes.
No entanto, toda demência e paixão de Hughes parecem ter se concentrado na produção e nas seqüências aéreas. Quanto à produção, o principal já apareceu em "O Aviador", de Martin Scorsese: um filme independente, feito praticamente contra Hollywood e refeito em seguida, quando a chegada do som tendia a torná-lo uma prematura peça de museu.
No mais, o que falta ao filme é um estilo pessoal, algo talvez explicável pelas interferências de Hughes no filme. Marshall Neilan, o primeiro diretor, encheu-se tanto com a história que passou o filme ao produtor (exatamente igual ao que faria seu discípulo, Howard Hawks, com "O Proscrito", anos mais tarde). Ou ainda por Hughes concentrar obsessivamente seus esforços em alguns aspectos do filme.
"Anjos do Inferno" resulta, ainda hoje, um divertimento seguro, mais pelo que traz de espetacular, que não é pouco, e pela evocação da presença da aviação na Primeira Guerra, do que pelo aspecto dramático do filme, que é banal. (INÁCIO ARAUJO)

Anjos do Inferno
    Direção: Howard Hughes
Distribuidora: Classicline; R$ 35