da Sucursal do Rio

Depois da queda do Muro de Berlim e do colapso da União Soviética, criticar ou apoiar a ideologia do regime socialista de Cuba não tem, segundo o diretor Carlos Celdrán, 34, a mesma importância para sua geração do que teve para a juventude dos anos 60 e 70.
Até porque, para ele, "nem Fidel é mais o mesmo, não governa o país com mãos de ferro como antigamente".
"A opinião pública mundial tem de nós, cubanos, a visão de que qualquer coisa que façamos tem a ver com Fidel", disse Celdrán.
"Principalmente em arte, tudo que se produz nos é cobrado como uma resposta contra ou a favor do regime socialista. A minha geração está saturada disso. Pensar que Cuba é só Fidel é uma neurose muito grande."
Por isso, em "A Noite dos Assassinos", o diretor se disse muito preocupado em focalizar as relações entre os personagens e seus sentimentos.
"Procurei dar ênfase ao indivíduo e não discutir se o sistema é culpado pela forma como ele vive. Quero fugir da visão política, para falar da família e da responsabilidade que os filhos também têm nos conflitos retratados na peça."
Intolerância
Segundo Celdrán, a sua montagem para "A Noite dos Assassinos" pretende mostrar que não só os pais, que em outras encenações foram encarados como metáfora do sistema, mas também os filhos, que representariam o povo cubano, são responsáveis pela "intolerância do poder".
"Não podemos mais simplesmente apontar um dedo acusador para Fidel. É a hora de descobrir qual é nossa participação no processo que permitiu a imposição de um sistema político totalitário."
Celdrán é diretor de teatro há dez anos e garante nunca ter sofrido censura às peças que encenou. Ele atribui isso ao fato de fazer parte de uma nova geração, "que tem conseguido falar o que é preciso, porque encontrou a maneira certa".
Uma versão para a primeira peça do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, "Baal", que Celdrán dirigiu antes de vir para o Brasil, há dois meses, é, segundo ele, um exemplo dessa maneira.



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