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GASTRONOMIA
Cresce no Reino Unido a procura da comida "pura", em combate à geneticamente modificada
"Orgânicos" querem barrar
"alimentos Frankenstein"
SYLVIA COLOMBO
de Londres
Parque de Primrose Hill, 16h, tarde de um domingo no começo da
primavera londrina, faz sol, temperatura em torno dos 18 graus.
Um grupo de jovens com idades
entre 25 e 30 anos está sentado na
grama. No centro do círculo há
sanduíches, frutas, sucos e pratos
com frango e queijo.
Um dos rapazes se levanta e começa um discurso. Prega contra o
consumo de alimentos transgênicos e elogia o gosto do lanche orgânico que estão saboreando.
O piquenique descrito acima é
fruto de uma nova moda gastronômica que invadiu a Inglaterra e se
espalha rapidamente por toda a
Europa: a alimentação orgânica.
Novos bares e restaurantes orgânicos surgem a cada semana em
Londres. A ambientação é moderna e o atendimento é feito por garçons sempre prontos a falar sobre
os benefícios da comida orgânica.
Diferente da macrobiótica ou da
vegetariana, a alimentação orgânica inclui tudo o que é consumido
na cozinha convencional. O que
muda é que todos os ingredientes
são cultivados, produzidos e processados livres de qualquer químico, conservante ou pesticida (veja
ilustração à pág. 4-5).
A alimentação orgânica também
inclui carne (frango, boi, porco)
desde que os animais tenham sido
criados livremente, com o mínimo
de cerceamento possível, e alimentados somente com comida orgânica até o abatimento.
A alimentação orgânica ainda é
mais cara que a regular, o que ajuda a definir a fatia social que é
adepta do novo hábito. Os "orgânicos" são jovens, geralmente entre 25 e 35 anos, de classe média alta e com um bom nível de instrução. São frequentadores ativos da
vida cultural da capital britânica.
Entre seus papos preferidos estão a virada do milênio e preocupações com a saúde. "Todo mundo
fica curioso para comparar os gostos do orgânico com o regular.
Muitas vezes, o orgânico é melhor,
mas também há vários casos em
que o sabor não muda muito. Comer orgânico não significa comer
algo mais gostoso, é comer algo de
mais qualidade", diz Ross Doherty, dono do bar e restaurante
orgânico Sauce.
Os "orgânicos" fizeram essa opção devido a alguns fatores. Existe
uma preocupação ecológica, pois
temem que o uso descontrolado de
pesticidas cause impacto negativo
no meio ambiente.
Também há uma preocupação
com os animais. Os manifestos citam os maus-tratos com que são
criados como um crime contra a
fauna. Dizem ainda que um animal
criado preso e estressado gera uma
carne de menor qualidade.
Mas a principal preocupação dos
"orgânicos" é evitar a proliferação
dos transgênicos, alimentos modificados geneticamente pela biotecnologia. A prática científica tem
realizado transformações genéticas em sementes com o objetivo de
mudar características das plantações, às vezes para torná-las mais
resistentes a ações de insetos ou
bactérias, outras vezes para alterar
o sabor, o tamanho ou a aparência
dos alimentos. Os tablóides (jornais sensacionalistas) britânicos
apelidaram esse tipo de alimento
de "comida Frankenstein".
O que os defensores da comida
orgânica consideram é que a biotecnologia ainda não conseguiu
provar se os alimentos modificados geneticamente podem ou não
ser prejudiciais à saúde.
Vários estudos foram feitos e há
muita polêmica na área. Diante da
hesitante posição das autoridades
científicas, alguns grupos passaram a defender a alimentação orgânica e o banimento de plantações e da venda de transgênicos.
Com a polêmica instalada, o governo inglês determinou que todos
os bares e restaurantes fossem
obrigados a informar em seus cardápios quais dos pratos contêm ou
não transgênicos. Mais um ponto
para os "orgânicos", que são
apoiados por inúmeras ONGs e associações de direitos humanos.
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