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Autor russo oscila entre prosa e verso
especial para a Folha
Um dos mais reverenciados tradutores da literatura russa para o
português, o professor Boris
Schnaiderman, é o responsável pelo principal fato das comemorações do bicentenário de Púchkin
no Brasil.
A editora 34 está lançando "A
Dama de Espadas", que inclui contos do autor russo traduzidos por
Schnaiderman e textos poéticos
vertidos para o português em conjunto com Nelson Ascher.
Abaixo, Schnaiderman fala sobre
seu trabalho de tradução de Púchkin e sobre a versão que o poeta
russo fez, para sua língua materna,
de uma das liras de Tomás Antônio Gonzaga.
(IFP)
Folha - Qual o maior desafio em
traduzir Púchkin?
Boris Schnaiderman - Qualquer
tradução de Púchkin apresenta
uma grande dificuldade: a aparente simplicidade do texto dele, que é
muito difícil de transmitir sem banalizar. Há o caso da conversa de
Flaubert com Turguêniev, na qual
Flaubert disse: "Não sei, falam tanto desse poeta de vocês, eu nunca li
texto dele". Turguêniev traduziu
alguns textos de Púchkin, e Flaubert disse: "Ah, mas esse seu poeta
é muito banal!". O que ele chamava
de banalidade era a extrema simplicidade de Púchkin -essa poesia que às vezes tem muito de prosa, mas continua a ser poesia.
Púchkin é paradoxal nisso, tanto é
que oscila entre a prosa e o verso.
Folha - Muitas obras fundamentais de Púchkin, como "Ievguêni
Oniéguin", ainda não foram editadas por aqui. Por quê?
Schnaiderman - É uma obra muito difícil de traduzir condignamente. É um romance em versos.
Na correspondência, ora ele chama de romance, ora de poema. Ele
estava passando para a prosa, mas
a própria poesia dele tinha características de prosa, sem deixar de ser
grande poesia.
Folha - Púchkin traduziu uma das
liras de Tomás Antônio Gonzaga
para o russo. Conte essa história.
Schnaiderman - É uma questão
bastante discutida: se Púchkin traduziu do português ou do francês.
Eu tenho certeza absoluta de que
ele traduziu do francês, porque
certos afastamentos do texto de
Gonzaga que estão na tradução
francesa em prosa, da década de
1820, estão também em Púchkin.
Folha - Nas edições de Púchkin,
no tempo da URSS, eram feitas pequenas alterações no texto, não?
Schnaiderman - Sim. Púchkin era
muito desabusado, chamava as
coisas pelo nome. Então, aparecem muitos palavrões -que, nessas edições, apareciam em reticências.
Livro: A Dama de Espadas
Autor: Aleksandr Púchkin
Tradução: Boris Schnaiderman e Nelson
Ascher
Lançamento: Editora 34
Quanto: R$ 27 (288 págs.)
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