São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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Autor russo oscila entre prosa e verso

especial para a Folha

Um dos mais reverenciados tradutores da literatura russa para o português, o professor Boris Schnaiderman, é o responsável pelo principal fato das comemorações do bicentenário de Púchkin no Brasil.
A editora 34 está lançando "A Dama de Espadas", que inclui contos do autor russo traduzidos por Schnaiderman e textos poéticos vertidos para o português em conjunto com Nelson Ascher.
Abaixo, Schnaiderman fala sobre seu trabalho de tradução de Púchkin e sobre a versão que o poeta russo fez, para sua língua materna, de uma das liras de Tomás Antônio Gonzaga. (IFP)


Folha - Qual o maior desafio em traduzir Púchkin?
Boris Schnaiderman -
Qualquer tradução de Púchkin apresenta uma grande dificuldade: a aparente simplicidade do texto dele, que é muito difícil de transmitir sem banalizar. Há o caso da conversa de Flaubert com Turguêniev, na qual Flaubert disse: "Não sei, falam tanto desse poeta de vocês, eu nunca li texto dele". Turguêniev traduziu alguns textos de Púchkin, e Flaubert disse: "Ah, mas esse seu poeta é muito banal!". O que ele chamava de banalidade era a extrema simplicidade de Púchkin -essa poesia que às vezes tem muito de prosa, mas continua a ser poesia. Púchkin é paradoxal nisso, tanto é que oscila entre a prosa e o verso.
Folha - Muitas obras fundamentais de Púchkin, como "Ievguêni Oniéguin", ainda não foram editadas por aqui. Por quê?
Schnaiderman -
É uma obra muito difícil de traduzir condignamente. É um romance em versos. Na correspondência, ora ele chama de romance, ora de poema. Ele estava passando para a prosa, mas a própria poesia dele tinha características de prosa, sem deixar de ser grande poesia.
Folha - Púchkin traduziu uma das liras de Tomás Antônio Gonzaga para o russo. Conte essa história.
Schnaiderman -
É uma questão bastante discutida: se Púchkin traduziu do português ou do francês. Eu tenho certeza absoluta de que ele traduziu do francês, porque certos afastamentos do texto de Gonzaga que estão na tradução francesa em prosa, da década de 1820, estão também em Púchkin.
Folha - Nas edições de Púchkin, no tempo da URSS, eram feitas pequenas alterações no texto, não?
Schnaiderman -
Sim. Púchkin era muito desabusado, chamava as coisas pelo nome. Então, aparecem muitos palavrões -que, nessas edições, apareciam em reticências.

Livro: A Dama de Espadas Autor: Aleksandr Púchkin Tradução: Boris Schnaiderman e Nelson Ascher
Lançamento: Editora 34
Quanto: R$ 27 (288 págs.)



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