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MÚSICA
Os sons da floresta farão parte do poema sinfônico "Amazonas", que o músico está compondo com Everardo Castro
João Donato "interna-se" na Amazônia
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM IRANDUBA (AM)
Elaborar um poema sinfônico
que misture a modernidade de
uma linha de montagem de produtos eletrônicos com o bramir
de um casal de onças ou o estrilar
dos grilos e das cigarras. É o que
busca o pianista e arranjador João
Donato, 67, que se "internou" recentemente por sete dias na floresta amazônica em busca de inspiração para sua obra.
Convivendo com árvores gigantescas, pássaros exóticos e passeando de canoa pelos lagos e igarapés do rio Ariaú, Donato está
elaborando, em parceria musical
com o também compositor Everardo Castro, seu primeiro poema
sinfônico, denominado "Amazonas". A obra terá cerca de 50 minutos de duração e arranjos do
maestro Laércio de Freitas, da Orquestra Jazz Sinfônica de SP.
"Amazonas" já tem até data
marcada para a primeira apresentação: dia 5 de setembro no teatro
Amazonas, em Manaus, pois está
sendo composto especialmente
para um concerto da Amazonas
Filarmônica sob a regência de
Luiz Fernando Malheiros.
Apesar do nome do poema sinfônico ser semelhante ao da primeira faixa do CD "The Frog"
[lançado este ano pela Elephant
Records", elaborada em parceria
com o seu irmão, Lysias Ênio, na
nova obra Donato pretende inserir a essência e a sonoridade da
floresta onde nasceu, mais precisamente pelas bandas de Rio
Branco, quando a capital do Acre
ainda era território do Amazonas.
Donato foi criado até os 11 anos
de idade nesse local -tempo suficiente para deixar em sua memória os sons do balançar das
águas dos rios, das onças e dos
cânticos indígenas.
Sons que Donato e Castro estão
coletando agora em pequenos
gravadores e que permitirão um
retorno às origens amazônicas,
transformando-os em notas musicais para compor a obra.
Donato não tinha contato tão
próximo com a floresta havia
mais de dez anos. As primeiras
imagens que viu da mata pela janela do avião, que lhe trouxe do
Rio para Manaus, lhe emocionaram. "Quando olhei da janela, vi a
grandiosidade do Amazonas, e a
emoção me tornou um menino,
não parei de registrar as nuvens, a
floresta, as águas, as casinhas pequeninas, não tive mais como não
registrar com minha máquina fotográfica essa emoção. Acho que é
a mesma sensação de um beduíno
olhando o deserto, é como voltar
ao ventre da minha mãe", diz.
Em Manaus, Donato gravou
num zoológico o bramir de um
casal de onças, o estrilar dos grilos
e das cigarras. Castro foi para uma
fábrica de áudio e vídeo onde gravou a sonoridade das linhas de
montagem.
"O poema sinfônico vai ter todos esses sons porque representará também a modernidade e o
progresso do Amazonas", afirma
Castro. "O Donato é amazônico, e
eu tenho origem amazônica, meu
avô nasceu em Janauacá. Essa
idéia do poema sinfônico é, na
verdade, um retorno às origens."
"Fico meio extasiado com a floresta, a cor do rio Negro e o barulho dele tocando as margens",
disse Donato, durante a viagem
de duas horas e meia que fez num
barco para chegar ao hotel de selva Ariaú Amazon Towers, a 60
km a oeste de Manaus, onde os artistas ficaram refugiados para realizar a pesquisa musical.
Na floresta, Donato quebrou o
costume de acordar tarde e, às
7h30, já estava dentro de uma canoa para visitar os igarapés e depois percorrer as passarelas de
madeira do Ariaú para observar
os pássaros e as copas das árvores.
"Tenho uma música simples e
procuro fazer disso uma poesia,
mas não sei articular as palavras,
sei articular a música."
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