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Aos 20 anos de carreira, Red Hot Chili Peppers põe o peso de lado e arrisca
novas sonoridades
Crise de meia-idade
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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O cantor Anthony Kiedis em show do Rock In Rio em 2001 |
CLAUDIA ASSEF
DA REPORTAGEM LOCAL
Dizem que quando a barata
se acostuma com o veneno,
nada mais consegue matá-la -a
não ser uma boa chinelada, claro.
Essa história de baratox cai como uma luva para o Red Hot Chili
Peppers em 2002.
Às vésperas de completar 20
anos de estrada, o quarteto californiano lança o oitavo CD da
carreira, "By the Way". O disco é
prova de que se o "veneno" -no
caso, a heroína- não os derrubou, nada mais vai conseguir afetar esses "baratões".
Com o mesmo time e o mesmo
produtor (Rick Rubin) do clássico
"Blood Sugar Sex Magic", em 91,
repete a dose de criatividade e
descompromisso com clichês em
"By the Way".
Em vez de atacar na linha dos
hits macho-funks que ajudaram
"Californication", de 99, a vender
rios -600 mil cópias no Brasil,
12,5 milhões pelo mundo- os
Chili Peppers fizeram um disco
improvável, com a marca "Chili
Peppers" diluída nos vocais de
Anthony Kiedis.
É verdade que em "By the
Way", primeiro single do disco,
você nem vai sentir tanta diferença: estão ali o baixão característico
de Flea, a bateria seca de Chad
Smith, a guitarra fraseada de John
Frusciante e, principalmente, o
vocal anasalado de Kiedis.
Mas aí vem "Universally Speaking", uma delícia que lembra
mais a Califórnia dos Beach Boys
do que a dos Chili Peppers. Tem
coralzinho bem anos 60, cordas,
teclado melotron... Ué, o que
aconteceu com os meninos?
Um chute óbvio para explicar o
novo "approach" é a mudança de
atmosfera pela qual os Peppers
passaram. Do envolvimento com
a heroína, que custou a vida do
primeiro guitarrista, Hillel Slovak, em 88, até aqui, a banda esteve várias vezes por um triz.
O último a abandonar a droga
-e o que mais intimidade teve
com ela- foi o guitarrista John
Frusciante, que agora se diz completamente limpo.
Então hoje na banda ninguém
mais usa drogas. No lugar delas,
da bebida e do cigarro, comida
natureba, malhação e ioga. E tem
mais: todos, menos Frusciante,
estão entrando na casa dos 40.
Então, foi uma crise de meia-idade que trouxe nova sonoridade aos Chili Peppers? Se foi, bem-vindos aos 40, meninos.
Como em "Under the Bridge",
que falava sobre o passado junkie
de Kiedis, o disco faz referência ao
uso de heroína. Segundo contaram à revista inglesa "Q", é uma
maneira de exorcizar o passado.
Assim nasceram versos de "This
Is the Place": "Aqui é o lugar onde
os viciados vão/Onde o tempo
passa rápido/Mas as coisas ficam
lentas".
Em "Dosed", guitarras doces e
vocais sobrepostos sugerem que a
ioga e/ou a sobriedade fizeram o
Peppers trocar funk-testosterona
por um semimantra pop.
Antes de "By the Way", ninguém duvidaria da habilidade como instrumentistas dos Chili
Peppers. Mas aqui há mais que isso. Um exemplo é a preocupação
com os backing vocals, como fica
evidente na ensolarada "Zephyr
Song".
As palavras de ordem dos Peppers de 2002 também mudaram.
Se antes transformavam odes à
bagunça em hino ("Give it Away",
"Fight Like a Brave"), agora que a
adolescência se foi preferem declarações de amor ("I Could Die
for You" e " "Don't Forget me") e
de guerra ao consumismo
("Throw away your Television",
ou "jogue fora a sua TV").
Já no final do disco, "Minor
Thing" evoca sutilmente The Mamas & the Papas. E "Warm Tape"
começa com teclados que lembram o Cure da fase mais dark.
Então, não dizem que a vida começa aos 40?
By The Way
Artista: Red Hot Chili Peppers
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 27, em média
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