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CRÍTICA
Projeto preserva arroubos do gênero
DA REPORTAGEM LOCAL
A primeira audição do tango downtempo do Gotan
Project deixa algumas perguntas
no ar. Como ninguém havia pensado nessa combinação? Depois
de pelo menos dez anos de música
eletrônica massificada, apostando
em todo tipo de mistura, por que
o tango foi preservado?
Se "La Revancha del Tango" levanta essas perguntas, o disco
também as responde. Misturar
tango e eletrônica não é tarefa fácil. Os acentos e os dramas do estilo argentino não são para mãos
pesadas, para tocadores de discos
desavisados. O tango tem todo
um universo extramusical, também repleto de dramaticidade,
que precisa ser preservado em
qualquer transposição pretendida. Esse é o grande acerto do trio.
Philippe Cohen Solal, Eduardo
Makaroff e Christoph H. Müller
entraram no estúdio sabendo que
teriam de polir as arestas que fatalmente surgiram entre os beats e
loops e os instrumentos acústicos
tradicionalmente usados no tango, como o baixo acústico, o bandônion, a guitarra acústica, o piano e o violino. E mais: transpostas
as barreiras musicais, ainda restava o problema do significado do
tango, de sua inclinação política,
de seus arroubos de paixão.
O primeiro desafio é superado
com facilidade pela maneira perfeita com que os músicos improvisam sobre as bases eletrônicas.
O segundo, mais difuso, foi conseguido com o uso de cartas escondidas na manga, como o sample de discurso de Che Guevara
pedindo paz ou da fala de Eva Perón contra o capitalismo estrangeiro. Mesmo quando o discurso
remete ao universo do hip hop,
como a longa citação de mestres
do downtempo em "Chunga's
Revenge", cover de Frank Zappa,
os produtores reservam um contraponto musical que não deixa
dúvidas de que é de tango que estão falando.
(GUILHERME WERNECK)
La Revancha del Tango
Grupo: Gotan Project
Lançamento: Ya Basta! (importado)
Quanto: R$ 55, em média
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