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RUÍDO
"Sete entre dez discos de ouro são ilegítimos"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Supla pode virar uma espécie de bode expiatório da indústria fonográfica nacional
com a revelação de que era falso
o disco duplo de platina que recebeu da Abril Music por "O
Charada Brasileiro", mas há
quem admita que esse está longe
de ser caso isolado ou incomum.
É o que diz à Folha alto executivo de uma das cinco grandes
gravadoras multinacionais, sob
a condição de que seu nome e o
da companhia em que trabalha
não sejam revelados. Afirma ele:
"Nossa empresa tem como
política não mentir sobre vendagem em programas de televisão. Numa crise como a que estamos passando, fica difícil reclamar que não vendemos CDs
num cenário em que, de cada
dez discos de ouro ou platina
entregues na TV, sete não são legítimos. Isso passa uma sensação de que nesse mercado não
há crise, o que não é verdade".
Entre os premiados recentemente por suas vendagens estão
Roberto Carlos (1,8 milhão de
cópias, segundo a Sony), Cidade
Negra e KLB (também Sony),
Rita Lee e Bruno & Marrone
(Abril), Leonardo (BMG), Padre
Marcelo Rossi (Universal).
PIRATA MUNDIAL
E agora o assunto é internacional. Caprichadas coletâneas de vinil, como as da
série "Hearts of Stone", fazem prospecção do animado rock de garagem produzido no Brasil dos 60, reencontrando bandas esquecidas como Analfabitles, Os
Baobás, Os Brasas, Bubbles,
Os Canibais, Os Jovens etc.
O problema? Piratas, os LPs
são fabricados na Itália sem
autorização ou pagamento
de direitos (a capa acima é
pirateada da Sony, de LP de
66 de Renato e Seus Blue
Caps). Parte das tiragens é
remetida ao Brasil e circula
em sebos e lojas indie a cerca de R$ 90; e a pirataria européia substitui atividade
cultural que grandes gravadoras deviam promover no
Brasil, nem que fosse para
gerar divisas de exportação,
tema hoje tão em voga em
discursos políticos.
SEMIPIRATA OFICIAL
Está nas lojas a série "Pirata Não", que usa um selo
de caveira para ensinar ao
público que consumir pirataria é errado. Sob nobre estratégia, a Sony recoloca em
catálogo (a cerca de R$ 9, na
loja virtual da gravadora)
raridades de Silvio Caldas,
Tom Zé, João Bosco, Martinho da Vila, Fagner, Amelinha e vários outros. Mas a
nobreza começa a ruir nos
encartes toscos e na incapacidade da gravadora de ao
menos identificar os anos
originais de edição (parece
coisa de pirata, pois não?).
E se esmigalha de vez no
volume dedicado ao trovador cearense Ednardo: a capa é do delicado "Ednardo"
(79), mas o repertório é o
do rascante "Ímã" (80).
Vem cá, como a Sony pode
combater pirataria oficializando-a (mesmo sem querer), hein? Coisa feia.
ENCONTROS & REENCONTROS
Não são só o CD com Jorge Mautner ("Não Peço Desculpas", que
sai em agosto) e a reunião dos Doces Bárbaros (no fim do ano). É
caso secretíssimo, mas a festa dos 60 anos de Caetano Veloso inclui projeto de reencontro musical com o antitropicalista Chico
Buarque, 58.
psanches@folhasp.com.br
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