São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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RUÍDO

"Sete entre dez discos de ouro são ilegítimos"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Supla pode virar uma espécie de bode expiatório da indústria fonográfica nacional com a revelação de que era falso o disco duplo de platina que recebeu da Abril Music por "O Charada Brasileiro", mas há quem admita que esse está longe de ser caso isolado ou incomum.
É o que diz à Folha alto executivo de uma das cinco grandes gravadoras multinacionais, sob a condição de que seu nome e o da companhia em que trabalha não sejam revelados. Afirma ele:
"Nossa empresa tem como política não mentir sobre vendagem em programas de televisão. Numa crise como a que estamos passando, fica difícil reclamar que não vendemos CDs num cenário em que, de cada dez discos de ouro ou platina entregues na TV, sete não são legítimos. Isso passa uma sensação de que nesse mercado não há crise, o que não é verdade".
Entre os premiados recentemente por suas vendagens estão Roberto Carlos (1,8 milhão de cópias, segundo a Sony), Cidade Negra e KLB (também Sony), Rita Lee e Bruno & Marrone (Abril), Leonardo (BMG), Padre Marcelo Rossi (Universal).

PIRATA MUNDIAL

E agora o assunto é internacional. Caprichadas coletâneas de vinil, como as da série "Hearts of Stone", fazem prospecção do animado rock de garagem produzido no Brasil dos 60, reencontrando bandas esquecidas como Analfabitles, Os Baobás, Os Brasas, Bubbles, Os Canibais, Os Jovens etc. O problema? Piratas, os LPs são fabricados na Itália sem autorização ou pagamento de direitos (a capa acima é pirateada da Sony, de LP de 66 de Renato e Seus Blue Caps). Parte das tiragens é remetida ao Brasil e circula em sebos e lojas indie a cerca de R$ 90; e a pirataria européia substitui atividade cultural que grandes gravadoras deviam promover no Brasil, nem que fosse para gerar divisas de exportação, tema hoje tão em voga em discursos políticos.

SEMIPIRATA OFICIAL

Está nas lojas a série "Pirata Não", que usa um selo de caveira para ensinar ao público que consumir pirataria é errado. Sob nobre estratégia, a Sony recoloca em catálogo (a cerca de R$ 9, na loja virtual da gravadora) raridades de Silvio Caldas, Tom Zé, João Bosco, Martinho da Vila, Fagner, Amelinha e vários outros. Mas a nobreza começa a ruir nos encartes toscos e na incapacidade da gravadora de ao menos identificar os anos originais de edição (parece coisa de pirata, pois não?). E se esmigalha de vez no volume dedicado ao trovador cearense Ednardo: a capa é do delicado "Ednardo" (79), mas o repertório é o do rascante "Ímã" (80). Vem cá, como a Sony pode combater pirataria oficializando-a (mesmo sem querer), hein? Coisa feia.

ENCONTROS & REENCONTROS

Não são só o CD com Jorge Mautner ("Não Peço Desculpas", que sai em agosto) e a reunião dos Doces Bárbaros (no fim do ano). É caso secretíssimo, mas a festa dos 60 anos de Caetano Veloso inclui projeto de reencontro musical com o antitropicalista Chico Buarque, 58.
psanches@folhasp.com.br



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