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CRÍTICA
O fim do regional x universal
DA REPORTAGEM LOCAL
Da varanda na rua da Aurora, na margem esquerda
do Capibaribe, Recife, Hélder
Aragão, vulgo DJ Dolores, recita
algo como "don't believe the
hype", a epístola de um certo Public Enemy que recomenda a descrença nos modismos. Tira do cinismo do punk, sua filiação nostálgica, e da safadeza dionisíaca
do Nordeste a vingança periférica
da chamada música eletrônica.
"Contraditório?", o CD, põe Gilberto Freyre, cuja voz e motes cerebrais são sampleados na faixa
homônima, no terreiro do
drum'n'bass e batuques congêneres. Para combater o enfado dos
centros que ditam modismos da
hora, Dolores aposta não no "exotic", mas no fim do falso dilema
do regional versus o universal.
O disco pode parecer distorcido
demais para quem padece da
"Síndrome de Mário de Andrade", o homem que pôs a culpa folclórica na alma paulistana, e regional demais para quem vê o
Nordeste apenas como foi inventado pelas narrativas higienizadas
dos turistas aprendizes. (Os mesmos visitantes não querem enxergar que o sertão, ao contrário do
que se vê nos filmes dos meninos
ricos e culpados do Sudeste, é
cheio de moscas sobre couros podres de bode à beira de estradas e
postos de gasolina).
São contradições -e não me
venham dizer que o CD mistura
música regional com eletrônica,
caros escribas- que interessam a
Dolores e Orchestra Santa Massa.
Quando a periferia do capital começa a bolir nas geringonças tecnológicas com jeito, a vingança
não tarda. Aí entram as mungangas do MC e rabequeiro Maciel
Salú, scratches de KSB, Fábio
Trummer das "boyzinhas"...
(XICO SÁ)
Contraditório?
Artista: DJ Dolores
Lançamento: Candeeiro/Trama
Quanto: R$ 19,90
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