|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Disco sem música vira objeto de desejo
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
Um disco sem música, com participação de um poeta que odiava
música -abria pequenas exceções para o frevo e o flamenco-,
rendeu os samples falados do disco de DJ Dolores & Orchestra
Santa Massa e tem movido os
pick-ups de muitas festas de pernambucanos e simpatizantes.
O CD se chama "Voz Poética",
produzido pelo artista plástico
Paulo Bruscky, em 98. Registra
poemas gravados por João Cabral
de Melo Neto, o do desprezo por
música, Ascenso Ferreira, Manuel
Bandeira, Mauro Mota, Olegário
Mariano e Gilberto Freyre.
Quem disse que o autor de "Casa-Grande & Senzala" não cometeu lirismos tresloucados? A produção foi pequena, não passou
pelo filtro da crítica metida, mas
Bandeira se disse com "dor-de-corno", ciúmes, do primo.
Na faixa-título do disco de DJ
Dolores, Freyre ressurge num
sample tirado do enigmático
"Voz Poética": "Serei eu contraditório?/ O mais contraditório dos
homens". O mote explica o tricô
eletrônico de Dolores, que nasceu
Helder Aragão, em Propriá, Sergipe, e dali rumou enquanto jovem
para o Recife, onde cantam as sereias da suposta modernidade.
O que falta de música no "Voz
Poética", que teve uma tiragem de
apenas 1.500 exemplares, sobra
em ritmo. Gilberto Freyre pode
não ter sido um grande poeta bissexto, mas recita com a dramaticidade de um grego. Bom.
Só perde para Ascenso Ferreira,
a quem se rendeu, com elogios de
"olhar estrangeiro", o turista
aprendiz Mário de Andrade. Ascenso também virou sample no
"Contraditório?" de DJ Dolores. A
homenagem cai bem.
VOZ POÉTICA. Produção: Paulo Bruscky.
Editora: Cepe (tel. 0/xx/81/ 3421-4233).
Edição esgotada.
Texto Anterior: Gilberto Freire cai no drum'n'bass Próximo Texto: Crítica: O fim do regional x universal Índice
|