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POLÊMICA
Artista diz que procedimento é anacrônico, mas responsabiliza gravadoras e artistas pelo estado atual da música
Ivan Lins afirma que é contra a numeração de discos
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora as gravadoras afirmem que seus artistas não são favoráveis ao projeto de numeração de CDs, já aprovado no Senado, o carioca Ivan Lins, 57, torna-se agora
(e por enquanto) o único a afirmar isso publicamente. Para ele, a
numeração sequencial de discos e
livros seria, em 2002, um procedimento anacrônico.
"Numerar é tão inócuo e antigo
e confunde tanto que parece que
não estamos sendo capazes de ser
modernos. A classe está desunida,
perdida. Me desculpem, mas acho
que precisamos de decisões mais
inteligentes", opina Ivan Lins.
"Acho que essa medida vai tumultuar mais ainda o problema
da pirataria. O nível está tão
adiantado que numerar ou não
numerar vai dar rigorosamente
na mesma. Tem que resolver o
pior primeiro. Há 2.000 pessoas
fichadas por pirataria, todo mundo sabe quem são os piratas e ninguém faz nada", afirma, misturando (como fazem os executivos
das gravadoras) os assuntos pirataria e direitos autorais.
Mas Lins parece não compartilhar com o editor de seus discos (o
presidente da Abril Music, Marcos Maynard) a opinião negativa
sobre Lobão, que lidera a mobilização a favor da numeração.
"O que motivou Lobão e Beth
Carvalho é louvável, temos que
defender nossos interesses. Se todos tivéssemos a vontade que Lobão tem, estaríamos muito melhor. A culpa é nossa, estamos
iguais ao povo brasileiro, que não
sabe votar. E não vou isentar as
gravadoras, não. Ainda é preciso
moralizar muita coisa na indústria fonográfica."
Evoca exemplos de seu início de
carreira: "Nos anos 70, praticavam transferência de números
para artistas que precisavam de
disco de ouro para impulsionar
vendagem. Tinha de se dizer na
imprensa que Perla vendeu 300
mil discos, então tiravam das vendagens de Ivan Lins e João Bosco.
Na RCA, hoje BMG, tive discos
que venderam 50 mil cópias e na
fatura caíram para 10 mil".
Embora a suspeição sobre discos de ouro e platina ainda exista,
ele ressalta: "Não sei se coisas assim ainda acontecem, não posso
afirmar nada. Pode até ser possível, mas acho muito difícil".
Para o compositor, a luta não é
"molecagem", como diz Maynard: "Isso parte mais da nossa
classe pensante, que produz música de qualidade. É a grande nata
de artistas que não estão na mídia,
e as gravadoras criaram isso, porque o acesso da música de qualidade a rádio e TV ficou muito difícil. Quem vende hoje é Chitãozinho, ironicamente a maior vítima da pirataria. Tudo mostra que a classe está muito desinformada e,
pela crise, desesperada também".
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