São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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POLÊMICA

Artista diz que procedimento é anacrônico, mas responsabiliza gravadoras e artistas pelo estado atual da música

Ivan Lins afirma que é contra a numeração de discos

DA REPORTAGEM LOCAL

Embora as gravadoras afirmem que seus artistas não são favoráveis ao projeto de numeração de CDs, já aprovado no Senado, o carioca Ivan Lins, 57, torna-se agora (e por enquanto) o único a afirmar isso publicamente. Para ele, a numeração sequencial de discos e livros seria, em 2002, um procedimento anacrônico.
"Numerar é tão inócuo e antigo e confunde tanto que parece que não estamos sendo capazes de ser modernos. A classe está desunida, perdida. Me desculpem, mas acho que precisamos de decisões mais inteligentes", opina Ivan Lins.
"Acho que essa medida vai tumultuar mais ainda o problema da pirataria. O nível está tão adiantado que numerar ou não numerar vai dar rigorosamente na mesma. Tem que resolver o pior primeiro. Há 2.000 pessoas fichadas por pirataria, todo mundo sabe quem são os piratas e ninguém faz nada", afirma, misturando (como fazem os executivos das gravadoras) os assuntos pirataria e direitos autorais.
Mas Lins parece não compartilhar com o editor de seus discos (o presidente da Abril Music, Marcos Maynard) a opinião negativa sobre Lobão, que lidera a mobilização a favor da numeração.
"O que motivou Lobão e Beth Carvalho é louvável, temos que defender nossos interesses. Se todos tivéssemos a vontade que Lobão tem, estaríamos muito melhor. A culpa é nossa, estamos iguais ao povo brasileiro, que não sabe votar. E não vou isentar as gravadoras, não. Ainda é preciso moralizar muita coisa na indústria fonográfica."
Evoca exemplos de seu início de carreira: "Nos anos 70, praticavam transferência de números para artistas que precisavam de disco de ouro para impulsionar vendagem. Tinha de se dizer na imprensa que Perla vendeu 300 mil discos, então tiravam das vendagens de Ivan Lins e João Bosco. Na RCA, hoje BMG, tive discos que venderam 50 mil cópias e na fatura caíram para 10 mil".
Embora a suspeição sobre discos de ouro e platina ainda exista, ele ressalta: "Não sei se coisas assim ainda acontecem, não posso afirmar nada. Pode até ser possível, mas acho muito difícil".
Para o compositor, a luta não é "molecagem", como diz Maynard: "Isso parte mais da nossa classe pensante, que produz música de qualidade. É a grande nata de artistas que não estão na mídia, e as gravadoras criaram isso, porque o acesso da música de qualidade a rádio e TV ficou muito difícil. Quem vende hoje é Chitãozinho, ironicamente a maior vítima da pirataria. Tudo mostra que a classe está muito desinformada e, pela crise, desesperada também".



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