São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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Autores discutem narcotráfico e culpa alemã

Britânico Misha Glenny comenta libertação de Ingrid, e Rodrigo Naves vê Schulze à luz da nova Alemanha

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY

"Achei fantástica a libertação de Ingrid Betancourt", disse o jornalista britânico Misha Glenny. "Mas gostaria de lembrar que o narcotráfico não pára de crescer na Colômbia e que 70% do dinheiro do plano americano de ajuda ao país é gasto dentro dos EUA mesmo", disse.
As declarações foram dadas ontem na Flip na mesa "Os Fuzis". Autor de "McMáfia" (Cia. das Letras), que discute a globalização do crime organizado, inclusive no Brasil, Glenny debateu com Guilherme Fiuza, autor do livro "Meu Nome Não É Johnny".
Para Fiuza, existe muita hipocrisia em relação à discussão sobre drogas e está ocorrendo um "preconceito ao contrário" em relação à classe média sempre que se trata do assunto de drogas e crimes.

Leveza
Na mesa "Formas Breves", o escritor e tradutor Modesto Carone comparou a "epifania numa casca de laranja" de um conto lido pelo alemão Ingo Schulze ao "Aleph", de Jorge Luis Borges. Schulze disse que sempre tenta retirar algo excepcional do cotidiano. "A literatura tem o poder de tornar visível o que torna válido viver a vida, seja um belo fim de semana ou um dia normal passado com a família", disse o escritor, que lança na Flip o livro de contos "Celular" (Cosac Naify).
Também seu companheiro de mesa, Rodrigo Naves comentou que a obra de Schulze apresenta uma leveza que contrasta com o peso da culpa do nazismo presente nos livros de escritores alemães de gerações anteriores. Schulze, que nasceu em Dresden, na antiga Alemanha Oriental, disse que a queda do muro de Berlim e a reunificação do país aproximaram dele a história alemã, antes encoberta parcialmente pelo regime comunista. E que a sensação de culpa não é algo que se encontre em sua geração, mas, talvez o de responsabilidade pelos prejudicados no Holocausto.
Schulze terminou com uma piada sobre a reunificação da Alemanha: "Antes da queda do muro podia-se falar mal do chefe, mas nunca do secretário-geral do partido comunista. Agora, pode-se falar mal do chanceler, não do chefe".


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