São Paulo, Segunda-feira, 05 de Julho de 1999
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TELEVISÃO
Os "anjos de preto" da Rede Globo

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Sherazade está uma arara. Passou longas e árduas horas dando tratos à bola para tecer 1.001 histórias que pudessem entreter a crueldade de um sultão. Ficou muito famosa pela generosidade de seu talento.
Só que agora um seriado chamado -oh, que humilhação para uma rainha da narrativa!- "Malhação" atingiu suas 1.001 tardes de duração, com um bando de garotos e garotas namoradeiras que, eventualmente, malham numa academia de ginástica.
Logo que surgiu, foi uma vitória da adolescência brasileira. Um programa só para os adolescentes nacionais com a concretização dramática de suas peripécias. Não demorou muito, o programa já fornecia um ídolo. O louro (é claro) Cláudio Heinrich, campeão total de correspondência.
Nos capítulos atuais, não se sabe bem quem exerce esse posto de ídolo maior. O Alexandre Frota acaba de passar. Mas ele é mesmo só para passar. Nunca para parar e virar ídolo.
"Cadê o Mocotó?", pergunta apreensiva uma bonitinha. Ela tem motivo para preocupação. Mocotó mandou fazer obras na academia e não pagou. Para garantir o calote, escondeu-se em São Paulo.
Mas Rio é Rio. Já aparece pelos jardins dos malhadores um nordestino batendo um bumbo, exigindo a presença do caloteiro com dinheiro na mão. Mas a vantagem de um seriado que ultrapassa seu milésimo capítulo é que tem liberdade para o absurdo.
Há pouco, um filme chamado "MIB - Homens de Preto", fez sucesso. Por que não inventar um grupo de AIB ("angels in black")?
"Malhação" está cheia de anjos vestidos de preto mais sensuais que angelicais. Um deles convenceu uma mocinha espiritualizada e de passado brejeiro a voar com ele. "Vamos em direção ao sol como Ícaro?", pergunta ela. Vão. Como não têm asas, o que irá derreter?
Tem uma anja (Vera Zimmerman) de preto disposta a fazer das suas. "Como você se chama?" "Raquel." "Não pode ser anjo." "Pode. Ela se chamava Rochelle."
Também de preto aparece a Maria Zilda Bethlem. Anja é o que ela não é. Quer garoto para namorar, porque o marido, Stepan Nercessian, é um escritor que não escreve e nem fica em cima. Maria Zilda meteu um garoto no carro preto e tirou o pé do freio. O Stepan ficou stepânico.
Para esquentar, apareceu o Luciano Szafir, fazendo todo mundo se esquecer da lourice do Heinrich. O Szafir é o que se tem de melhor. Vai acabar com o que sobra do Stallone ou van Damme, embarcando para atuar direto nos filmes de Hollywood. Szafir se acostumou com o melhor, e com ele quer ficar.
Com "Malhação" toda milésima, o Celso Freitas está acreditando que o "Você Decide" pode emplacar essa milhagem. O programa optou pela farsa. Marília Pêra parte para a comédia, brigando com a amante do marido enfartado. Esse (Othon Bastos) tem que conter gargalhada no leito que era para ser de sua morte.



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