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TELEVISÃO
Os "anjos de preto" da Rede Globo
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Sherazade está uma arara. Passou longas e árduas horas dando
tratos à bola para tecer 1.001 histórias que pudessem entreter a
crueldade de um sultão. Ficou
muito famosa pela generosidade
de seu talento.
Só que agora um seriado chamado -oh, que humilhação para
uma rainha da narrativa!-
"Malhação" atingiu suas 1.001
tardes de duração, com um bando
de garotos e garotas namoradeiras que, eventualmente, malham
numa academia de ginástica.
Logo que surgiu, foi uma vitória
da adolescência brasileira. Um
programa só para os adolescentes
nacionais com a concretização
dramática de suas peripécias.
Não demorou muito, o programa
já fornecia um ídolo. O louro (é
claro) Cláudio Heinrich, campeão total de correspondência.
Nos capítulos atuais, não
se sabe bem
quem exerce
esse posto de
ídolo maior. O
Alexandre
Frota acaba
de passar.
Mas ele é mesmo só para
passar. Nunca
para parar e
virar ídolo.
"Cadê o Mocotó?", pergunta apreensiva uma
bonitinha. Ela tem motivo para
preocupação. Mocotó mandou fazer obras na academia e não pagou. Para garantir o calote, escondeu-se em São Paulo.
Mas Rio é Rio. Já aparece pelos
jardins dos malhadores um nordestino batendo um bumbo, exigindo a presença do caloteiro com
dinheiro na mão. Mas a vantagem de um seriado que ultrapassa
seu milésimo capítulo é que tem
liberdade para
o absurdo.
Há pouco,
um filme chamado "MIB -
Homens de
Preto", fez sucesso. Por que
não inventar
um grupo de
AIB ("angels in
black")?
"Malhação"
está cheia de
anjos vestidos
de preto mais sensuais que angelicais. Um deles convenceu uma
mocinha espiritualizada e de passado brejeiro a voar com ele. "Vamos em direção ao sol como Ícaro?", pergunta ela. Vão. Como
não têm asas, o que irá derreter?
Tem uma anja (Vera Zimmerman) de preto disposta a fazer das
suas. "Como você se chama?"
"Raquel." "Não pode ser anjo."
"Pode. Ela se chamava Rochelle."
Também de preto aparece a Maria Zilda Bethlem. Anja é o que
ela não é. Quer garoto para namorar, porque o marido, Stepan
Nercessian, é um escritor que não
escreve e nem fica em cima. Maria
Zilda meteu um garoto no carro
preto e tirou o pé do freio. O Stepan ficou stepânico.
Para esquentar, apareceu o Luciano Szafir, fazendo todo mundo
se esquecer da lourice do Heinrich. O Szafir é o que se tem de
melhor. Vai acabar com o que sobra do Stallone ou van Damme,
embarcando para atuar direto
nos filmes de Hollywood. Szafir se
acostumou com o melhor, e com
ele quer ficar.
Com "Malhação" toda milésima, o Celso Freitas está acreditando que o "Você Decide" pode
emplacar essa milhagem. O programa optou pela farsa. Marília
Pêra parte para a comédia, brigando com a amante do marido
enfartado. Esse (Othon Bastos)
tem que conter gargalhada no leito que era para ser de sua morte.
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