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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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Nanini vê espaço para o humor no drama

DO ENVIADO ESPECIAL

Para cada personagem que encontra no teatro, o pernambucano Marco Nanini, 55, cria como que uma "biografia". No texto da peça, adiciona toda informação que lhe abra caminho para chegar ao cerne do papel.
No caso de Willy Loman, o caixeiro-viajante de Arthur Miller, colou fotos, mapas, versos, tudo que encontrou sobre as citações de época. Apesar do drama social, ele vê em Loman alguns traços de humor. É o comediante Nanini colado no drama à sua moda, dirigido pela segunda vez por Felipe Hirsch (de "Os Solitários"). (VS)
 

PERSONALISMO - O Willy Loman é um cidadão muito chato, egocêntrico, personalista, cheio de histórias, dita regras, mas é um ser completamente puro. E o Arthur Miller tem uma visão quase "molièresca" dele, de compaixão. É de uma emoção esse homem, de uma lucidez tamanha que ultrapassa um terreno e vai para a alucinação. É um homem em estado-limite, último grau da pressão, do desespero, e, paradoxalmente, da consciência também.

HUMOR - Willy é muito emotivo, hilariante. Pensei: olha que problema: esse homem é hilariante, não posso ficar achando muita graça nesse homem, apesar de adorar o humor dele. O difícil é misturar: não posso abrir mão desse humor, mas não posso grifá-lo exageradamente. É um homem comum que se perde no romantismo, quase quixotesco.

NA ALMA - O autor tira o problema macro da história e vai tocar o ser comum. Isso tornou a peça eterna, porque vai na alma do homem que se vê tachado de fracassado. Eu acho que o Willy sempre entendeu errado a história toda. Ele não se preparou para os reveses dessa aposta no capitalismo, no tal sonho americano.

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