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ARTES PLÁSTICAS
Exposição no Centro Pompidou, em Paris, apresenta produção contemporânea de 50 artistas do país
China dribla massificação e exercita olhar crítico
Divulgação
![](../images/i0508200304.jpg) |
"Pular o Muro", obra de Weng Fen que está na exposição "E Então a China", em cartaz em Paris |
BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com a exposição "E Então a
China" o Centro Pompidou
abre o ano da China na França. É
uma exposição pluridisciplinar,
que focaliza os diversos campos
das artes plásticas, da arquitetura,
do cinema e da música. Visa mostrar a vitalidade da criação chinesa de hoje com obras produzidas
nos últimos cinco anos por 50 artistas da China continental.
Trata-se de uma seleção menos
exaustiva do que diversa, cujo interesse está no olhar crítico dos
artistas que sobreviveram à massificação imposta pelo governo
chinês. A exposição, que ocupa
1.500 m2 de uma das galerias do
centro, foi concebida como o espaço de um passeio, onde a disposição das obras permite a justaposição das diferentes mídias. Assim, o painel coteja o vídeo que,
por sua vez, coteja a maquete.
O visitante é convidado a compor livremente o seu itinerário,
deixando-se atrair por um vídeo,
um painel gigante, uma vitrine,
onde verá uma centena de objetos
fabricados durante a Revolução
Cultural. No seu passeio, irá da
China contemporânea à antiga,
evocada pelo jade, o espelho de
bronze ou a caligrafia Ming.
Alguns artistas aí se destacam.
Na entrada, Wang Jianwei, por
um vídeo double-face. De um lado, as cenas da tomada do poder
em 1940. Do outro, fragmentos
das oito óperas-modelo da Revolução Cultural, mostrando o que
nenhum ocidental imaginaria,
uma dança de roquetes chinesas
vestidas como soldados de Mao.
Tão impecáveis como as roquetes
do Lincoln Center, mas tendo como adereço uma metralhadora.
Depois de se surpreender com a
propaganda maoísta, o visitante
topa no painel gigante de Fang
Lyun com uma multiplicidade de
rostos que evoca a massa. Porém,
pela diferença marcante entre um
rosto e outro, faz a crítica da idéia
de massa, cujo pressuposto é a
identidade entre todos os integrantes. Fang Lyun desrespeita o
dogma da uniformização a serviço dos ideais coletivos, exercitando-se no "Realismo Crítico", movimento ao qual pertence.
Outra obra interessantíssima é a
de Geng Jiany. Apresenta 31 livros
em que não há nada a não ser uma
cor ou a impressão digital do leitor. Para nos deixar em falta da escrita e mostrar que sem ela não há
história. Para lembrar que sem o
leitor o livro não existe ou para
exaltar o livro nesses tempos em
que uma estranha dúvida paira
sobre a sua longevidade, vale ver e
considerar o enigma de Jiany.
Betty Milan é escritora, psicanalista e
autora de "A Paixão de Lia", entre outros
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