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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição no Centro Pompidou, em Paris, apresenta produção contemporânea de 50 artistas do país

China dribla massificação e exercita olhar crítico

Divulgação
"Pular o Muro", obra de Weng Fen que está na exposição "E Então a China", em cartaz em Paris


BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com a exposição "E Então a China" o Centro Pompidou abre o ano da China na França. É uma exposição pluridisciplinar, que focaliza os diversos campos das artes plásticas, da arquitetura, do cinema e da música. Visa mostrar a vitalidade da criação chinesa de hoje com obras produzidas nos últimos cinco anos por 50 artistas da China continental.
Trata-se de uma seleção menos exaustiva do que diversa, cujo interesse está no olhar crítico dos artistas que sobreviveram à massificação imposta pelo governo chinês. A exposição, que ocupa 1.500 m2 de uma das galerias do centro, foi concebida como o espaço de um passeio, onde a disposição das obras permite a justaposição das diferentes mídias. Assim, o painel coteja o vídeo que, por sua vez, coteja a maquete.
O visitante é convidado a compor livremente o seu itinerário, deixando-se atrair por um vídeo, um painel gigante, uma vitrine, onde verá uma centena de objetos fabricados durante a Revolução Cultural. No seu passeio, irá da China contemporânea à antiga, evocada pelo jade, o espelho de bronze ou a caligrafia Ming.
Alguns artistas aí se destacam. Na entrada, Wang Jianwei, por um vídeo double-face. De um lado, as cenas da tomada do poder em 1940. Do outro, fragmentos das oito óperas-modelo da Revolução Cultural, mostrando o que nenhum ocidental imaginaria, uma dança de roquetes chinesas vestidas como soldados de Mao. Tão impecáveis como as roquetes do Lincoln Center, mas tendo como adereço uma metralhadora.
Depois de se surpreender com a propaganda maoísta, o visitante topa no painel gigante de Fang Lyun com uma multiplicidade de rostos que evoca a massa. Porém, pela diferença marcante entre um rosto e outro, faz a crítica da idéia de massa, cujo pressuposto é a identidade entre todos os integrantes. Fang Lyun desrespeita o dogma da uniformização a serviço dos ideais coletivos, exercitando-se no "Realismo Crítico", movimento ao qual pertence.
Outra obra interessantíssima é a de Geng Jiany. Apresenta 31 livros em que não há nada a não ser uma cor ou a impressão digital do leitor. Para nos deixar em falta da escrita e mostrar que sem ela não há história. Para lembrar que sem o leitor o livro não existe ou para exaltar o livro nesses tempos em que uma estranha dúvida paira sobre a sua longevidade, vale ver e considerar o enigma de Jiany.


Betty Milan é escritora, psicanalista e autora de "A Paixão de Lia", entre outros


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