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MÚSICA
Precursor da bossa nova, o artista morreu no último sábado
Paulinho Nogueira foi simples e grande
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A música brasileira perdeu
um de seus grandes instrumentistas. Vítima de um infarto
fulminante, aos 75 anos, o violonista e compositor Paulinho
Nogueira morreu no último sábado. Ao lado do instrumento,
que ele dedilhara pouco antes
de morrer, sua mulher Elza encontrou uma partitura da canção "Triste", de Tom Jobim.
Impossível não pensar na tragicidade da cena. Sensível como
o toque de seu violão, o paulista
de Campinas não escondia dos
amigos e colegas de trabalho
que andava bastante desgostoso
com a situação do mercado musical e com os caminhos tomados pela música brasileira.
Mesmo assim preparava-se
para as gravações de um novo
álbum, que seria dedicado à
obra de Jobim. Segundo Alcina
Meirelles, sua produtora, Paulinho planejava um disco instrumental numa linha semelhante
à de "Primeiras Composições"
(2002), o último álbum que lançou, centrado na música de Chico Buarque, comemorando 50
anos de carreira profissional.
Não foi à toa que, para as releituras instrumentais, Paulinho
escolheu as primeiras canções
de Chico. Nelas encontrou melodias simples, que se afinam
perfeitamente com sua concepção musical. Paulinho foi um especialista na arte de extrair beleza da simplicidade.
Isso não que dizer que sua
música fosse simplória. Paulinho se identificava plenamente
com a geração bossa-novista.
Unindo sofisticação harmônica
com a batida sincopada típica
da bossa nova, seu violão de cordas de nylon influenciou inúmeros instrumentistas.
Talvez por timidez e extrema
humildade Paulinho tenha demorado muito a ser reconhecido como precursor da bossa nova -título que rejeitava.
Quem sabe agora, com sua
morte, o mercado brasileiro
acerte a dívida que tem com a
obra do simplesmente grande
Paulinho Nogueira.
Carlos Calado é crítico e autor de
"Tropicália - A História de Uma Revolução Musical", entre outros livros
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