São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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Fantasma está fora da máquina

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

A expressão "fantasma na máquina" é recorrente no filme de Alex Proyas. Ela teria sido cunhada pelo cientista Alfred Lanning (James Cromwell) para explicar a fronteira final vencida por seus robôs, a aquisição de consciência.
O verdadeiro autor da frase é o filósofo britânico Gilbert Ryle (1900-76). Sua intenção foi ridicularizar o dualismo, corrente de pensamento segundo a qual a mente e a consciência têm uma natureza imaterial, diferente dos circuitos biológicos do cérebro.
No mundo real da robótica o fantasma reluta em entrar na máquina. Apesar de terem adquirido algumas habilidades dignas de livros de ficção, como ganhar partidas de xadrez, desviar de obstáculos, fazer cirurgias e até reagir a emoções, os computadores ainda não têm nada que chegue perto de habilidades humanas. Falta-lhes bom senso.
"Nenhum computador consegue olhar para uma sala e contar o que vê", disse no ano passado à revista americana "Wired" ninguém menos que Marvin Minsky, fundador do Laboratório de Inteligência Artificial do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), um dos principais pensadores da área.
Dito de outra forma, nenhum robô hoje é capaz de passar no teste mental elaborado pelo pai da inteligência artificial, o britânico Alan Turing (1912-54). Ele propôs que tudo o que era necessário para que uma máquina fosse considerada um ser consciente seria que ela aparentasse consciência, conseguindo se passar por um humano numa conversa.
Habilidades que os humanos dão de barato, como distinguir uma bola preta de uma branca sob condições diferentes de iluminação ou saber qual ação é relevante para abrir um pote de geléia, requerem quantidades monumentais de processamento paralelo que o cérebro tira de letra, mas cuja engenharia reversa, ou seja, a decomposição em "bits" de raciocínio que possam ser integrados por um computador, ainda é um sonho distante.
Os designers de robôs tentam resolver o problema de duas formas. Uma é simular o funcionamento do cérebro circuito a circuito, criando redes que sejam capazes de tomar decisões.
A outra, proposta por Rodney Brooks, do MIT, é equipar os robôs com sistema visual, capacidades sociais e destreza manual de crianças, para depois ensinar-lhes bom senso. Se robôs autoconscientes estarão nas ruas em 2035, é questão para os futurólogos.


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