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MÚSICA
Precursor da bossa nova e com status cult, cantor e pianista se apresenta no projeto Toca Brasil amanhã e sábado
Johnny Alf retorna ao palco com sua melodia sinuosa
RONALDO EVANGELISTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Estilista fundamental da música
brasileira, responsável pelas primeiras revoluções que dariam
origem à bossa nova, o cantor e
pianista Johnny Alf oferece amanhã e sábado chance rara de ser
visto e ouvido em pessoa, dentro
do projeto Toca Brasil, do Itaú
Cultural. Com poucos discos lançados -a maioria deles fora de
catálogo- e sem fazer apresentações freqüentes, Alf anda quase
esquecido, apesar do status cult
que geralmente vem associado a
seu nome.
Atualmente com 75 anos, o músico diz que segue produzindo e
continua compondo, mas não sabe explicar o motivo de não lançar
álbum novo no mercado brasileiro há cinco anos. "A música mudou muito, não sei se o meu estilo
agrada às pessoas de hoje", esquiva-se. Uma das maiores razões,
sabe-se, é sua personalidade extremamente tímida e introvertida, que o torna reservado e dono
do seu próprio ritmo. "Hoje em
dia os discos são gravados muito
rapidamente, não gosto disso.
Prefiro fazer tudo mais devagar,
escolher bem o repertório, pensar
nos arranjos", explicita.
Músico da noite desde meados
dos anos 50, costumava ter em
seu público cativo admiradores
como Tom Jobim, João Gilberto e
Baden Powell. Compositor muito
influenciado pelo jazz, lançou seu
primeiro compacto de 78 rotações em 1952 e por toda a década
criou clássicos de melodia sinuosa e harmonia sofisticada -como
"Eu e a Brisa", sua canção mais famosa- que se tornaram referências essenciais para os músicos
que depois inventariam a modernidade da bossa nos anos 60.
Reverência
Nascido Alfredo José da Silva no
Rio de Janeiro, Johnny Alf em
1955 veio morar em São Paulo,
onde vive até hoje. No auge da
música popular moderna, quando era reverenciado por toda a geração imediatamente posterior à
sua, dividiu seu tempo entre as
duas cidades. Como em 1962,
quando foi ao Rio regularizar sua
carteira de músico profissional e
acabou passando temporada de
jam sessions com os músicos de
samba-jazz do Beco das Garrafas.
"Nós" (EMI, 1974) e "Desbunde
Total" (Warner, 1978), produtos
da mistura de samba-bossa, funk
e experimentações sonoras do
Brasil dos anos 70, são os dois únicos registros do Johnny Alf clássico encontráveis nas lojas hoje.
Além desses, pode-se esbarrar em
algum disco ao vivo dos anos 90,
mas nem sinal de seus primeiros
álbuns, peças-chave da bossa, ou
mesmo discos mais recentes, gravados para os mercados americano e japonês, ainda inéditos.
Faz falta também, há 40 anos,
um lendário LP nunca lançado,
em que ele interpreta versões de
standards da bossa em inglês, coisas como "Little Boat" e "One Note Samba".
A gravação foi feita na primeira
metade dos anos 60 na gravadora
RCA, atual BMG. "Gosto bastante
desse disco, foi muito bom fazer e
o resultado saiu ótimo. Não sei
por que a gravadora não editou.
Talvez eles ainda lancem, não dá
pra entender".
JOHNNY ALF. Onde: Itaú Cultural (av.
Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/2168-1776). Quando: amanhã e sábado, às
19h30. Quanto: grátis (ingressos
distribuídos com meia hora de
antecedência).
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