São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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MÚSICA

Precursor da bossa nova e com status cult, cantor e pianista se apresenta no projeto Toca Brasil amanhã e sábado

Johnny Alf retorna ao palco com sua melodia sinuosa

RONALDO EVANGELISTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Estilista fundamental da música brasileira, responsável pelas primeiras revoluções que dariam origem à bossa nova, o cantor e pianista Johnny Alf oferece amanhã e sábado chance rara de ser visto e ouvido em pessoa, dentro do projeto Toca Brasil, do Itaú Cultural. Com poucos discos lançados -a maioria deles fora de catálogo- e sem fazer apresentações freqüentes, Alf anda quase esquecido, apesar do status cult que geralmente vem associado a seu nome.
Atualmente com 75 anos, o músico diz que segue produzindo e continua compondo, mas não sabe explicar o motivo de não lançar álbum novo no mercado brasileiro há cinco anos. "A música mudou muito, não sei se o meu estilo agrada às pessoas de hoje", esquiva-se. Uma das maiores razões, sabe-se, é sua personalidade extremamente tímida e introvertida, que o torna reservado e dono do seu próprio ritmo. "Hoje em dia os discos são gravados muito rapidamente, não gosto disso. Prefiro fazer tudo mais devagar, escolher bem o repertório, pensar nos arranjos", explicita.
Músico da noite desde meados dos anos 50, costumava ter em seu público cativo admiradores como Tom Jobim, João Gilberto e Baden Powell. Compositor muito influenciado pelo jazz, lançou seu primeiro compacto de 78 rotações em 1952 e por toda a década criou clássicos de melodia sinuosa e harmonia sofisticada -como "Eu e a Brisa", sua canção mais famosa- que se tornaram referências essenciais para os músicos que depois inventariam a modernidade da bossa nos anos 60.

Reverência
Nascido Alfredo José da Silva no Rio de Janeiro, Johnny Alf em 1955 veio morar em São Paulo, onde vive até hoje. No auge da música popular moderna, quando era reverenciado por toda a geração imediatamente posterior à sua, dividiu seu tempo entre as duas cidades. Como em 1962, quando foi ao Rio regularizar sua carteira de músico profissional e acabou passando temporada de jam sessions com os músicos de samba-jazz do Beco das Garrafas.
"Nós" (EMI, 1974) e "Desbunde Total" (Warner, 1978), produtos da mistura de samba-bossa, funk e experimentações sonoras do Brasil dos anos 70, são os dois únicos registros do Johnny Alf clássico encontráveis nas lojas hoje. Além desses, pode-se esbarrar em algum disco ao vivo dos anos 90, mas nem sinal de seus primeiros álbuns, peças-chave da bossa, ou mesmo discos mais recentes, gravados para os mercados americano e japonês, ainda inéditos.
Faz falta também, há 40 anos, um lendário LP nunca lançado, em que ele interpreta versões de standards da bossa em inglês, coisas como "Little Boat" e "One Note Samba".
A gravação foi feita na primeira metade dos anos 60 na gravadora RCA, atual BMG. "Gosto bastante desse disco, foi muito bom fazer e o resultado saiu ótimo. Não sei por que a gravadora não editou. Talvez eles ainda lancem, não dá pra entender".


JOHNNY ALF. Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, SP, tel. 0/xx/11/2168-1776). Quando: amanhã e sábado, às 19h30. Quanto: grátis (ingressos distribuídos com meia hora de antecedência).


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