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CRÍTICA
Exposição reduz importância de artistas a dados biográficos
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Qual a importância da biografia de um artista para a
fruição de sua obra? A exposição
"Dor, Forma, Beleza", em cartaz
na Estação Pinacoteca, parte de
um pressuposto perigoso: a explicação de várias obras a partir de
dados pessoais dos artistas.
Será legítimo reduzir a importância do trabalho de Leonilson
(1957-1993) à contração da Aids
pelo artista? Ou mesmo Farnese
de Andrade (1926-1996) ser considerado um "portador de deficiência bipolar (a antiga psicose maníaco depressiva) que necessitava
da arte para manter-se em equilíbrio", como os curadores Olívio
Tavares de Araújo e Leopoldo
Nosek afirmam nos textos de parede da mostra?
Segundo essa concepção, há
uma redução limitadora da criação e, pior, os trabalhos passam a
se tornar ilustração dos dilemas
individuais, o que é, sem dúvida,
uma maneira enviesada de compreensão da arte. A arte não se comunica porque trata de uma
questão individual, mas porque é
ampla o suficiente para tratar de
temas que vão muito além de mero individualismo.
Há momentos na exposição que
se tornam cômicos, quando os
curadores não conseguem vincular vida e obra, como nos casos de
Flávio Shiró e Ivan Serpa. Sobre
Shiró está escrito que embora ele
"não tenha os traços da personalidade de Farnese e seja uma pessoa
amena, sem nenhuma neurose visível, é um ser pensante e angustiado, consistente, inteligente". E
de Serpa, sobre sua estonteante
Série Negra, que não se sabe que
tenha sido realizada em um "momento difícil do artista".
Portanto, é preciso passar pela
exposição sem levar a sério as leituras propostas pelos curadores,
pois, no final das contas, a exposição traz um percurso instigante
da produção brasileira nos últimos 40 anos, a começar pelo primeiro segmento, dedicado a
questões político-sociais.
Lá, são apresentados trabalhos
dos anos 60 e 70, como registros
de performances realizadas na
mostra "Do Corpo à Terra", em
Belo Horizonte, em 1970: "Tiradentes: Totem-Monumento", de
Cildo Meireles, e as "Trouxas Ensangüentadas", de Artur Barrio,
obras já icônicas da produção nacional. No mesmo segmento,
Meireles comparece ainda com
"Strictu" (1999), uma instalação
interativa, sobre a Ku Klux Klan,
na qual visitantes podem se algemar e caminhar pelo espaço.
O segmento seguinte, um tanto
mais confuso, pois o que mais se
busca é explicar obras a partir de
dados biográficos, trata do uso de
questões individuais como inspiração para a produção artística,
onde estão Leonilson, Farnese,
Ivan Serpa e Iberê Camargo.
Finalmente, a última seção
aborda a produção recente de jovens artistas que tratam do corpo
em sua obra, sem dúvida um assunto recorrente nesta geração,
que inclui Cris Bierrenbach, Rafael Assef, Amilcar Packer, Nazareth Pacheco e Suzi Okamato. O
que dizem os textos sobre esses
artistas? Como diria Bartleby, o
escrivão, acho melhor não ler.
Dor, Forma e Beleza
Onde: Estação Pinacoteca (largo General
Osório, 66, Luz, SP, tel. 0/xx/11/3337-0185)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h;
até 4/9
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
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