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FÁBIO DE SOUZA ANDRADE
Azul derramado e silêncio contido
Saem o romance de estréia do engenheiro Eduardo Pires de Camargo e volume de poemas em prosa de Siscar
EDITORAS PARCEIRAS, a 7 Letras e a Cosacnaify lançam
respeitável balaio de 11 títulos. Ampliam-se as coleções "Ás de
Colete" (poesia, Cosacnaify), "Rocinante" (prosa, 7 Letras) e "Guizos"
(poesia, 7 Letras), dedicadas à produção contemporânea e com tônica
na diversidade. Entre eles, estão o
romance de estréia do engenheiro
paulista Eduardo Pires de Camargo,
"Azul", e o volume de poemas em
prosa "O Roubo do Silêncio", do
poeta, tradutor e professor de literatura Marcos Siscar, cuja poesia anterior foi reunida em "Metade da Arte" (Cosacnaify, 2003).
"Azul" se inscreve, à primeira vista, em ilustre linhagem moderna das
narrativas corrosivas em torno de
anti-heróis amesquinhados pelo cotidiano, engolidos pelas engrenagens da burocracia, mas escorrega
num maniqueísmo excessivo. Narrado em primeira pessoa, tocado a
frases nominais curtas e cartoriais e
tom melancólico, traz no primeiro
plano um percevejo urbano, contador infeliz e anônimo, preso a roupas mal cortadas, um emprego insosso e um quarto de pensão infecto.
Esse poço de ressentimentos e
mágoas acaba por transbordar, levando o protagonista, em desabalada carreira, a improvável cenário e
companhia. Com tempo para meditar, vê-se abrigado de chuvas torrenciais num bordel de morro, à beira-mar, junto a um padre, uma alpinista, um entomólogo e, naturalmente,
Madame e suas meninas. A chuva
passa, mas a revelação fica: o funcionário reconcilia-se com o artista latente em si, abraça um novo amor e
parte rumo a um destino menos
sombrio, azulado final feliz. Os saltos alegóricos abruptos desta narrativa de redenção casam mal com um
realismo psicologizante, de fundo
ingênuo, prendendo a personagem
ao esquematismo dos tipos.
Já em "O Roubo do Silêncio", a
violência da experiência contemporânea aflora como perplexidade lingüística, à beira da mudez interdita,
como medida alcançada do inominado. A expressão possível é fragmentária e tateante, lírica invadida
pela prosa do mundo, testando, elástica e baudelaireana, os limites da
identidade, entre o eu e o outro, a
coisa e a palavra. Remoer-se pelo resultado é a regra do jogo, em busca
de fal(h)ar melhor: "O silêncio é o
sofrimento da palavra, quando a
poesia do silêncio lhe é roubada. A
vingança dos desapropriados é o barulho da prosa do mundo. Se eu pudesse falar, pegaria andorinhas em
vôo", diz o poema-título do livro.
Seja invadida pelo banal da vegetação rasteira, do galo ciscando, do
fim de dia em cidade estrangeira ou
pelo flagrante do corpo de um imigrante morto, a poesia de Siscar
(culta e de discreta comoção, como
anota João Adolfo Hansen, na orelha) habita o "como", a linguagem do
impasse, experimentada sem concessões. Arquitetado e irônico, não
abdica da eficiência da simplicidade.
AZUL
Autor: Eduardo Pires de Camargo
Editora: 7 Letras
Quanto: R$ 29 (172 págs.)
O ROUBO DO SILÊNCIO
Autor: Marcos Siscar
Editora: 7 Letras
Quanto: R$ 18 (68 págs.)
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