São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006

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Exposição discute a fotografia na era digital

Androginia cibernética liga os 94 cliques que podem ser vistos no Itaú Cultural

Com auxílio do Photoshop, Helga Stein, criadora da mostra, mudou sua imagem e montou série que ironiza os sites de relacionamento


DANIEL HORA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As aparências enganam e seduzem. Nos últimos três anos, Helga Stein, 30, concentrou seu trabalho na reflexão sobre o estatuto da fotografia digital. Com o programa de edição Photoshop, jogou com a própria imagem, alterou seu rosto e criou a série "Andros Hertz", que comenta as poses difundidas pelas comunidades de relacionamento na internet, em que todos tentam apresentar a melhor versão de si. Um conjunto de 94 exemplares dessas imagens estará em exibição no projeto Portfólio, no Itaú Cultural, a partir deste sábado (para convidados) e de domingo (para o público).
"Antes da internet, quando o sistema BBS só permitia troca de textos por meio do computador, me descrevia loira, de olhos claros, alta e magra, e os outros achavam que era gozação. Agora, vêem minha foto e questionam se sou de verdade", conta a artista paulistana radicada em Goiânia. A autora considera sua criação atual um desdobramento das identidades ambíguas -reais e fictícias presentes na mídia.
No Itaú, o visitante verá ampliações em papel, dois painéis com 36 poses cada um, e um back-light (caixa com luz por trás da foto). Lá mesmo, também poderá acessar em um terminal a página de Helga na comunidade Flickr (www.flickr.com/photos/helgastein). As imagens apresentam versões da artista, como a feminina, a masculina, a glamourosa e a louca. Ao lado, estão "composições" que fundem traços semelhantes aos dela com o semblante de amigos e conhecidos.
O título da série faz referência à androginia e à medida de velocidade de processamento na informática. "Com a manipulação digital, uma pessoa pode hoje adquirir outras identidades e a foto vai perdendo seu estatuto de documento fiel à realidade", afirma o curador do Portfólio, Eder Chiodetto, colaborador da Folha. Ele lembra ainda que o desejo de alterar a fotografia é antigo: nasceu pouco depois do advento da técnica, quando o retoque do negativo foi inventado em 1855.
Um conto levemente surrealista e kafkaniano, do escritor e psicanalista Tiago Noaves, acompanha as obras de Helga.


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