Banda nova do líder do White Stripes com a vocalista do The Kills lança seu primeiro disco, calcado no rock e blues

Nathan Denette -13.jun.09/Associated Press

Membros do Dead Weather: Jack Lawrence, Jack
White (à frente), Alison Mosshart e Dean Fertita

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário é de faroeste. Vestido de preto da cabeça aos pés, Jack White caminha para o duelo com uma... metralhadora. Na direção oposta, vem a cantora Alison Mosshart, fetiche roqueiro ambulante, e seus óculos escuros, jaqueta de couro e longos cabelos negros cobrindo o rosto. Ela está nervosa, metralhadora a tiracolo, e avisa: "me olhe no olho/ você quer me contar uma mentira/ aposto que você não consegue, e sabe por quê?/ sou como sua mãe".
Se o videoclipe de "Treat Me like Your Mother", dirigido por Jonathan Glazer, leva a guerra entre homem e mulher ao pé da letra, o The Dead Weather constrói uma sonoridade pesada, que flerta com o imaginário sombrio e cru do blues e do rock, numa tensão sexual que se desmancha em distorções de guitarras. Formado no começo deste ano, o Dead Weather é aquilo conhecido no meio musical como "supergrupo", ou seja, cada integrante vem de outra banda já célebre. O mais conhecido é Jack White, artista que despontou com o "novo rock" do começo dos anos 2000 com o White Stripes e, mais tarde, com o Raconteurs.
No Dead Weather, White deixa as guitarras e o vocal para tocar bateria -mas continua bancando o chefe. Quem assume os vocais é Alison Mosshart, do The Kills.
Em faixas como "Hang You from the Heavens", o caráter híbrido fica evidente: Alison encarna o exato oposto de Meg White, a quieta e blasé parceira musical de Jack no White Stripes. O resultado é um híbrido das referências blueseiras e "primitivas" de Jack com o rock minimalista e seco do The Kills. Apesar de, em certos momentos, os estereótipos do rock, no estilo "vamos fazer cara de malvados" (veja no YouTube apresentação no "Late Night with Conan O'Brien"), se imporem, o Dead Weather é mais do que pose. É só não levar a seriedade deles muito a sério.
A versão para a canção "New Pony", de Bob Dylan, por exemplo, fornece algumas coordenadas básicas. Originalmente de letra ambígua, erótica, que pode tanto ser referência ao Diabo quanto à própria mulher do músico, a faixa adquire novas conotações. Afinal, já que clichês estão em jogo, vale lembrar aquele que diz que o Diabo é uma mulher.