Ideia é boa, mas trama complexa e cheia de desvios faz com que personagens expliquem as cenas o tempo todo

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

"A Origem" simboliza novos tempos em Hollywood, tempos em que filmes não são apenas filmes, mas projetos de marketing.
O sonho dourado de qualquer estúdio hoje não é apenas fazer um filme de sucesso, mas criar uma marca que possa ser explorada em diversos outros meios, como videogames, séries de TV, jogos, bonecos, parques temáticos, livros etc.
O filme de Christopher Nolan ("Batman - o Cavaleiro das Trevas") tem alguns dos ingredientes básicos desses "franchises" cinematográficos: uma trama misteriosa e propícia a múltiplas interpretações; um universo de simbologia própria, que mistura exploração metafísica e mergulho no subconsciente. E um final aberto que deixa margem a continuações.
O público costuma adorar filmes que criam novos universos, como "Guerra nas Estrelas", "Matrix" ou "Avatar". É nessa categoria que "A Origem" pretende se inserir.
Leonardo DiCaprio interpreta Don Cobb, um especialista em roubar sonhos. Cobb entra na mente das pessoas e vê tudo o que elas sonham.
Ele usa suas habilidades para a espionagem corporativa. Até que recebe uma tarefa mais difícil: penetrar na mente do herdeiro de um império financeiro e "plantar" um sonho. Falar mais seria estragar a surpresa.
O grande problema de "A Origem" é que a ideia é melhor que o filme. A trama é tão complexa e cheia de desvios que os personagens passam a maior parte do tempo explicando o que vai acontecer na cena seguinte.
Os efeitos visuais são assombrosos. Mas o visual não compensa a frequente interferência desses diálogos explicativos, que não deixam a história fluir e, por fim, tornam tudo arrastado.
"A Origem" já é um sucesso de bilheteria nos Estados Unidos e em diversos outros países. Aposto que livros e games explorando a trama já estão sendo produzidos.
Tudo é ótimo. Mas, e como experiência dentro de um cinema? É divertido? Emocionante? Nem em sonho.

A ORIGEM
DIREÇÃO Christopher Nolan
PRODUÇÃO EUA/, 2010
COM Leonardo DiCaprio, Ken Watanabe, Michael Caine
ONDE Boulevard Tatuapé, UCI Jardim Sul e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular


Texto Anterior: Interprete este filme se for capaz
Próximo Texto: Opinião: "A Origem" é como sonho recorrente: você já viu antes
Índice