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OPINIÃO
"A Origem" é como sonho recorrente: você já viu antes
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Não é assim tão complicado entender "A Origem". Afinal, você já viu esse filme antes. Parece sonho recorrente,
que não acaba nunca.
Leonardo DiCaprio repete
seu papel em "A Ilha do Medo": homem atormentado,
com lembranças da mulher,
sem saber direito a solidez do
chão onde pisa.
Há quem diga que não há
coisa mais chata do que ouvir
a descrição do sonho de outra pessoa. O cinema, com
sua tradição de filmes-sonhos (Buñuel, Cocteau, Mário Peixoto, Fellini etc.), destrói de vez essa ideia.
A montagem, no entanto,
sempre impõe dificuldades.
Como indicar que uma sequência é um sonho sem cair
no clichê de cenas com fumaça, eco, cores saturadas?
David Lynch é a referência
imediata nos exemplos mais
recentes. "Cidade dos Sonhos" e "O Império dos Sonhos" simulam processos de
associações. Durante o sonho não temos consciência
de estarmos dormindo, nos
dizem esses filmes, com mais
sutileza que "A Origem".
"Waking Life", de Richard
Linklater, apresenta outra
boa solução. Depois de filmados, os atores recebem camadas de desenhos. A imagem
surge fluida, real mas irreal;
parece que vai se desmanchar a qualquer momento.
Akira Kurosawa buscou a
beleza plástica em "Sonhos".
A culpa e a beleza alternam
aparições, surgindo espetacularmente.
Já Alain Resnais nos questiona em forma de imagens: o
que aconteceu no passado é
real ou foi um sonho?
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