São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

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Depressão de Lars von Trier inspirou "Melancolia"

Declarações antissemitas de cineasta fizeram com que a recepção da crítica ao filme fosse abafada durante o Festival de Cannes

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

O cineasta Lars von Trier foi, de longe, o que mais atraiu a atenção da mídia no último Festival de Cannes.
Von Trier teve de dizer e redizer que não era nazista, conforme suas primeiras declarações levaram a crer.
A despeito de ter sido o mais ouvido e citado do festival, o diretor dinamarquês foi também o que menos pôde falar sobre o próprio filme. "Melancolia", que rendeu o prêmio de melhor atriz para Kirsten Dunst, saiu do festival sem que quase nada tivesse sido dito sobre seus significados ou sua plasticidade.
"Minhas provocações, como vocês definem o que eu digo, normalmente têm um propósito. Mas isto foi apenas um mal-entendido, uma piada estúpida... E agora ninguém mais fala do filme", disse o cineasta, no dia em que foi declarado "persona non grata" pelo festival, por suas frases de tom antissemita.
Pois, enfim, "Melancolia" poderá ser descoberto pelo público. E para quem guarda, de Von Trier, as referências de "Anticristo" ou "Manderlay", o filme surpreende.
Ao falar desse estado psíquico -ou de alma-, a melancolia, o diretor prestou uma homenagem à vida. "Não diria que é meu filme mais pessoal, mas sim que foi um dos que mais tive prazer em fazer", afirma.
Von Trier, que, desde "Europa" (1991), teve Cannes como vitrine para todos os filmes, diz que jamais criou algo que não tivesse relação com seus próprios fantasmas.
Admite, porém, que desta vez a relação foi mais direta. "Este tem relação com coisas recentes da minha vida, como minha depressão."
Von Trier recorda os dias em que ficou deitado, domado por um choro sem fim. "Há uma espécie de bênção nesse momento em que você desiste de tudo", diz. "Quando sai disso, vem a melancolia."
A melancolia encenada por ele e protagonizada por Dunst machuca ao mesmo tempo em que conforta. Confunde ao mesmo tempo em que proporciona insights. E Melancolia é também o planeta azul, ameaçador e belo, prestes a se chocar com a Terra.
"Não é por acaso que a melancolia está em tantos filmes, livros e músicas que amamos", diz o cineasta.


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