São Paulo, sexta, 5 de setembro de 1997.



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IMAGEM
Visual é de um macabro dândi pós-moderno

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Marilyn Manson é das melhores coisas que a cultura pop conseguiu produzir nos últimos tempos. E acompanhar sua iconografia é um delicioso exercício de estilo.
Teses e pontos de partida são vários. Como qualquer pós-moderno que se preze, Manson mistura referenciais o tempo todo.
Bruto e agressivo, tem alguma coisa feminina. Gay? Quem sabe e quem se importa... Grotesco, consegue ainda ter incontestáveis traços de beleza.
Espécie de Nietzsche às avessas, prega não um super-homem, mas proclama-se o Anticristo Superstar, celebrando à sua moda "the beautiful people".
No clipe "The Beautiful People", exatamente, aparece com aquelas armações de metal com que se tira radiografia no dentista (a cena mais exótica), entre outros mimos. A boca escancarada, desafiadora e aflitiva.

Fetiche
Marilyn Manson é um exagerado. Seu terror de boutique aciona todas as armas do imaginário de perversões. O look -calculadíssimo- traz referências ao universo do fetiche (máscaras, vinil, couro, preto e itens das práticas sadomasoquistas). Tatuagens são como vírgulas; cicatrizes e piercings viram hype.
O rosto é sempre branco; os olhos negros. A boca vem borrada e escura, de dar medo. Claro que o histórico do visual chocante não é de hoje. Olhar para Marilyn Manson é se lembrar, empiricamente, de pares como Alice Cooper, Kiss e mesmo o comedor de pintinhos Ozzy Osbourne.
Mas Manson vai além, trabalhando -dentro do possível- o vocabulário pop com niilismo e o máximo de descrença que tanta celebridade permite.
Aparece como um macabro dândi em versão anos 90, depurando seu look com elementos de moda sofisticados e modernos, tangendo até um estilo gótico -atualizado, claro. Até porque sua referência mais próxima é o clima noir de seu mentor e padrinho Trent Reznor, do Nine Inch Nails.

Hidra
Segundo consta, Manson descreve a si mesmo utilizando várias metáforas e imagens -uma cobra, um anjo, um alien e/ou a Hidra da mitologia grega.
De fato, como uma hidra que ameaça a ordem social, Manson tornou-se hoje um dos maiores pesadelos de pais em todo o mundo, preocupados com sua soturna mensagem de música e de vida.
Se você fosse Marilyn Manson, como seus pais o chamariam? A mãe dele o chama de Brian; o pai, de Manson, revela a "Rolling Stone", numa das incontáveis revistas dais quais ele foi capa.
O apelo para mídia e público é incontrolável -daí tanto pânico paterno. Do outro lado, quando Courtney Love se transforma na top model do momento, é bom ter Manson por perto para fazer algumas besteiras.
Mesmo porque, como já disse nosso anticristo de plantão, perverso mesmo é cantar "Hello", de Lionel Ritchie. E ele o faz.



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