São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2005

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ARQUITETURA

Reforma no museu de Nova York vai combater rachaduras, preservando o projeto de Frank Lloyd Wright

Guggenheim luta contra envelhecimento

ROBIN POGREBIN
DO "NEW YORK TIMES"

Talvez não seja tão decepcionante quanto ver a Fontana di Trevi cercada de tapumes e protegida por plásticos espessos. Ainda assim, turistas e cidadãos de Nova York certamente se sentirão frustrados com os tapumes que começaram a ser erigidos em torno do museu Guggenheim.
Como acontece com tudo o que envelhece, edifícios importantes em termos arquitetônicos -especialmente se tiverem uma estrutura tão pouco ortodoxa quanto a do museu em formato de espiral- precisam de cirurgia estética, e a necessidade era evidente. Há rachaduras na fachada do museu e no pavimento que o circunda, e os sistemas mecânicos que emprega são obsoletos.
Por isso o Guggenheim deu início a uma complexa reforma de US$ 27 milhões (cerca de R$ 63 milhões), na esperança de que surja renovado em 2007, dois anos antes de seu 50º aniversário. As obras serão realizadas sem que o museu feche as portas ao público. "É quase uma restauração artística", disse Thomas Krens, diretor do Guggenheim. "Nós tendemos a considerar o trabalho arquitetônico de Frank Lloyd Wright como uma das peças mais importantes de nosso acervo."
Tão logo os tapumes e andaimes estejam instalados, a remoção da pintura existente deve começar, um processo que provavelmente levará três meses e deixará o concreto do museu exposto pela primeira vez desde que o edifício foi construído, em 1959.
Até 12 camadas de pintura foram aplicadas às paredes do edifício ao longo dos anos. O verdadeiro trabalho de restauração só deve começar no segundo trimestre do ano que vem. Primeiro, os arquitetos e engenheiros especializados em preservação terão de examinar atentamente o paciente.
"Em uma construção como essa, a fase de investigação é absolutamente essencial", disse Pámela Jerome, diretora de preservação da Wank Adams Slavin Associates e arquiteta encarregada do projeto de preservação do edifício. "É um edifício nada convencional, de modo que teremos de estudar cada aspecto dele."
"Se você não tratar a causa do problema e cuidar apenas dos sintomas, eles retornarão. Não estamos falando de curar uma dor de cabeça com uma aspirina, e sim de descobrir porque as enxaquecas acontecem", comparou.
Devido ao status do Guggenheim e à importância de manter as intenções originais de Wright, a fase de diagnóstico terá de ser conduzida com delicadeza. Robert Silman, o engenheiro estrutural do projeto, diz que a abordagem empregada tem um nome técnico: avaliação não invasiva. Um componente crucial da investigação é estudar as rachaduras, que tipicamente são causadas pelas flutuações sazonais de temperatura. Para esse fim, um sistema de monitoração de rachaduras foi projetado, usando cabos que registram cada expansão e contração da estrutura e enviam dados a um computador.
A fase de avaliação também inclui levantamentos em laser das superfícies exteriores e interiores do museu. Isso dará aos arquitetos plantas precisas e modelos tridimensionais do edifício, que poderão ser comparados às plantas e aos desenhos originais. "Existem partes que registraram movimento significativo", disse Silman.
Segundo os envolvidos, ao longo do processo de restauração, as intenções originais de Wright serão prioridade. "Queremos fazer uma intervenção tão limitada quanto possível", disse Jerome. Seus colegas e ela estão estudando a fundo os arquivos de Wright no Instituto de Pesquisa Getty, em Los Angeles, e na Fundação Frank Lloyd Wright, em Taliesin West, Scottsdale, Arizona, analisando as plantas originais e a correspondência do arquiteto. "Há volumes e volumes de material que estamos consultando."
Os edifícios de Wright são notórios por problemas estruturais. O Guggenheim é o quarto projeto do arquiteto que a Wank Adams está restaurando, "e cada um deles foi um desafio", disse Jerome. "Cada edifício que ele projetava era uma experiência, porque ele sempre esteve na vanguarda."
Assim que a avaliação construtiva estiver concluída, a equipe vai definir qual é a melhor maneira de restaurar o edifício, do material para os remendos à cor da tinta. Os planos de renovação estão sujeitos à aprovação da Comissão de Preservação do Patrimônio Histórico. Se sobrar dinheiro, o Guggenheim vai considerar a melhora de suas instalações internas auxiliares, como o café, para o qual o arquiteto Charles Gwathmey foi convidado a oferecer idéias. Ele é responsável pelo projeto de renovação e ampliação do Guggenheim que foi completado em 1992.
A despeito da restauração, é preciso que o Guggenheim mantenha seu caráter, dizem os dirigentes do projeto. "Precisamos ter cuidado para que a aparência seja perfeita. Temos de preservar as provas da capacidade técnica daquela era, os indícios da tecnologia usada na construção", afirmou Jerome.
Paradoxalmente, portanto, quando as obras estiverem concluídas, ninguém deverá reparar no trabalho realizado. "Quando consertarmos o edifício, ele não deve ter aparência muito diferente da que tinha antes, mas sem as rachaduras", disse Silman.


Tradução Paulo Migliacci

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