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ARQUITETURA
Reforma no museu de Nova York vai combater rachaduras, preservando o projeto de Frank Lloyd Wright
Guggenheim luta contra envelhecimento
ROBIN POGREBIN
DO "NEW YORK TIMES"
Talvez não seja tão decepcionante quanto ver a Fontana di
Trevi cercada de tapumes e protegida por plásticos espessos. Ainda
assim, turistas e cidadãos de Nova
York certamente se sentirão frustrados com os tapumes que começaram a ser erigidos em torno
do museu Guggenheim.
Como acontece com tudo o que
envelhece, edifícios importantes
em termos arquitetônicos -especialmente se tiverem uma estrutura tão pouco ortodoxa quanto a do museu em formato de espiral- precisam de cirurgia estética, e a necessidade era evidente.
Há rachaduras na fachada do museu e no pavimento que o circunda, e os sistemas mecânicos que
emprega são obsoletos.
Por isso o Guggenheim deu início a uma complexa reforma de
US$ 27 milhões (cerca de R$ 63
milhões), na esperança de que
surja renovado em 2007, dois
anos antes de seu 50º aniversário.
As obras serão realizadas sem que
o museu feche as portas ao público. "É quase uma restauração artística", disse Thomas Krens, diretor do Guggenheim. "Nós tendemos a considerar o trabalho arquitetônico de Frank Lloyd
Wright como uma das peças mais
importantes de nosso acervo."
Tão logo os tapumes e andaimes estejam instalados, a remoção da pintura existente deve começar, um processo que provavelmente levará três meses e deixará o concreto do museu exposto pela primeira vez desde que o
edifício foi construído, em 1959.
Até 12 camadas de pintura foram aplicadas às paredes do edifício ao longo dos anos. O verdadeiro trabalho de restauração só deve
começar no segundo trimestre do
ano que vem. Primeiro, os arquitetos e engenheiros especializados
em preservação terão de examinar atentamente o paciente.
"Em uma construção como essa, a fase de investigação é absolutamente essencial", disse Pámela
Jerome, diretora de preservação
da Wank Adams Slavin Associates e arquiteta encarregada do
projeto de preservação do edifício. "É um edifício nada convencional, de modo que teremos de
estudar cada aspecto dele."
"Se você não tratar a causa do
problema e cuidar apenas dos sintomas, eles retornarão. Não estamos falando de curar uma dor de
cabeça com uma aspirina, e sim
de descobrir porque as enxaquecas acontecem", comparou.
Devido ao status do Guggenheim e à importância de manter
as intenções originais de Wright,
a fase de diagnóstico terá de ser
conduzida com delicadeza. Robert Silman, o engenheiro estrutural do projeto, diz que a abordagem empregada tem um nome
técnico: avaliação não invasiva.
Um componente crucial da investigação é estudar as rachaduras,
que tipicamente são causadas pelas flutuações sazonais de temperatura. Para esse fim, um sistema
de monitoração de rachaduras foi
projetado, usando cabos que registram cada expansão e contração da estrutura e enviam dados a
um computador.
A fase de avaliação também inclui levantamentos em laser das
superfícies exteriores e interiores
do museu. Isso dará aos arquitetos plantas precisas e modelos tridimensionais do edifício, que poderão ser comparados às plantas e
aos desenhos originais. "Existem
partes que registraram movimento significativo", disse Silman.
Segundo os envolvidos, ao longo do processo de restauração, as
intenções originais de Wright serão prioridade. "Queremos fazer
uma intervenção tão limitada
quanto possível", disse Jerome.
Seus colegas e ela estão estudando
a fundo os arquivos de Wright no
Instituto de Pesquisa Getty, em
Los Angeles, e na Fundação Frank
Lloyd Wright, em Taliesin West,
Scottsdale, Arizona, analisando as
plantas originais e a correspondência do arquiteto. "Há volumes
e volumes de material que estamos consultando."
Os edifícios de Wright são notórios por problemas estruturais. O
Guggenheim é o quarto projeto
do arquiteto que a Wank Adams
está restaurando, "e cada um deles foi um desafio", disse Jerome.
"Cada edifício que ele projetava
era uma experiência, porque ele
sempre esteve na vanguarda."
Assim que a avaliação construtiva estiver concluída, a equipe vai
definir qual é a melhor maneira
de restaurar o edifício, do material para os remendos à cor da tinta. Os planos de renovação estão
sujeitos à aprovação da Comissão
de Preservação do Patrimônio
Histórico. Se sobrar dinheiro, o
Guggenheim vai considerar a melhora de suas instalações internas
auxiliares, como o café, para o
qual o arquiteto Charles Gwathmey foi convidado a oferecer
idéias. Ele é responsável pelo projeto de renovação e ampliação do
Guggenheim que foi completado
em 1992.
A despeito da restauração, é
preciso que o Guggenheim mantenha seu caráter, dizem os dirigentes do projeto. "Precisamos
ter cuidado para que a aparência
seja perfeita. Temos de preservar
as provas da capacidade técnica
daquela era, os indícios da tecnologia usada na construção", afirmou Jerome.
Paradoxalmente, portanto,
quando as obras estiverem concluídas, ninguém deverá reparar
no trabalho realizado. "Quando
consertarmos o edifício, ele não
deve ter aparência muito diferente da que tinha antes, mas sem as
rachaduras", disse Silman.
Tradução Paulo Migliacci
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