São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2005

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LITERATURA

Hakan Nesser, que integra o boom escandinavo de histórias de detetive, lança seu "A Rede", de 1993, no país

Policial best-seller sueco mira no Brasil

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Como um país com baixos índices de criminalidade como a Suécia pode gerar boas histórias de detetive? A resposta à pergunta pode estar na imaginação de autores como Hakan Nesser, 55, que já vendeu um total de 6 milhões de cópias de seus 20 livros, dez deles policiais com status de best-seller, que agora começam alvejar o mercado brasileiro pela mira da editora Objetiva.
Protagonizada pelo inspetor Van Veeteren, a série foi iniciada em 1993 com "A Rede", que já está nas livrarias e é um dos marcos de um certo boom da literatura do gênero, made in Suécia, Noruega e Dinamarca, que despontou, segundo o próprio Nesser, há cerca de sete anos, fazendo grande sucesso na Europa, sobretudo na Alemanha. Mas, afinal, o que é que o escandinavo tem?
"Basicamente, temos uma boa tradição no gênero, ainda que iniciada recentemente, nos anos 60 e 70, pelo casal de autores suecos Sjöwall-Wahlöö. Sempre tentamos escrever boa literatura, não somente livros para entretenimento, histórias de detetive mais tradicionais, sem experimentações, algo como Georges Simenon", defende Nesser, em entrevista à Folha, citando o criador do inspetor Maigret, que alguns críticos consideram ser a sua principal inspiração.
O autor não está sozinho na crista da onda de sucesso dos romances policiais nórdicos. Ele mesmo cita alguns exemplos, como o conterrâneo Henning Mankell, que tem três livros já lançados no Brasil pela Companhia das Letras, a norueguesa Anne Holt e o dinamarquês Leif Davidsen, ambos inéditos no país.
Nesser, que opta por um viés mais psicológico na composição de seus personagens e tramas, diz acreditar que o romance policial escandinavo, em geral, é menos violento do que a produção européia e, sobretudo, do que a tradição norte-americana.
"Não temos muita criminalidade em nossos países. Os romances policiais dos Estados Unidos são mais sombrios, violentos, matam-se mais pessoas. Nos escandinavos, a escala de crimes é menor. São histórias mais focadas em dramas familiares, psicológicos, que ocorrem em cenários pequenos", avalia o autor.

Adaptações
Tirante a violência em menor escala, a série policialesca de Nesser, que já teve várias adaptações para o cinema e para a televisão, com o ator sueco Sven Wollter no papel principal, guarda semelhanças com a tradição do gênero: Van Veeteren, seu detetive, é um homem acima dos 50 anos de idade, infeliz com o trabalho, durão, mas, ao mesmo tempo, um sujeito que tem um bom coração. Apesar de não ser sueco -o nome Van Veeteren é holandês-, o detetive reflete algumas características dos "irmãos" escandinavos: o inspetor é melancólico, cético e solitário.
"Vivemos em países com um clima duro. Não somos exatamente depressivos. No entanto, um policial, depois de 30 anos vendo o lado negro da vida, não pode ser alguém feliz. Ele já acumulou muitas desilusões."
Em "A Rede", Van Veeteren, que vive na pequena cidade sueca de Maardan (fictícia), investiga as circunstâncias misteriosas que levaram à prisão e à conseqüente morte de Janek Mitter, um homem acusado, aparentemente por engano, do assassinato da mulher.
"Van Veeteren sabe que é seu trabalho resolver o crime. Põe mais energia do que deveria, talvez, porque é uma questão moral", diz Nesser, de sua criatura, que, dez livros depois, não chegou impune aos 65 anos.
"Em "A Rede", o detetive é mais existencialista. Depois do quinto livro, ele chega a seu limite, sai do emprego e compra uma pequena loja de livros antigos. Aos poucos, ele conhece uma mulher, sua má relação com o filho tem um desfecho trágico, mas ouso dizer que fica mais feliz do que era", adianta o autor para seus futuros fãs em terras brasileiras.


A Rede
Autor:
Hakan Nesser
Tradução: Patricia Broers-Lehmann
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 39,90 (304 págs.)


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