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LITERATURA
Hakan Nesser, que integra o boom escandinavo de histórias de detetive, lança seu "A Rede", de 1993, no país
Policial best-seller sueco mira no Brasil
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Como um país com baixos índices de criminalidade como a Suécia pode gerar boas histórias de
detetive? A resposta à pergunta
pode estar na imaginação de autores como Hakan Nesser, 55, que
já vendeu um total de 6 milhões
de cópias de seus 20 livros, dez deles policiais com status de best-seller, que agora começam alvejar o
mercado brasileiro pela mira da
editora Objetiva.
Protagonizada pelo inspetor
Van Veeteren, a série foi iniciada
em 1993 com "A Rede", que já está
nas livrarias e é um dos marcos de
um certo boom da literatura do
gênero, made in Suécia, Noruega
e Dinamarca, que despontou, segundo o próprio Nesser, há cerca
de sete anos, fazendo grande sucesso na Europa, sobretudo na
Alemanha. Mas, afinal, o que é
que o escandinavo tem?
"Basicamente, temos uma boa
tradição no gênero, ainda que iniciada recentemente, nos anos 60 e
70, pelo casal de autores suecos
Sjöwall-Wahlöö. Sempre tentamos escrever boa literatura, não
somente livros para entretenimento, histórias de detetive mais
tradicionais, sem experimentações, algo como Georges Simenon", defende Nesser, em entrevista à Folha, citando o criador do
inspetor Maigret, que alguns críticos consideram ser a sua principal
inspiração.
O autor não está sozinho na
crista da onda de sucesso dos romances policiais nórdicos. Ele
mesmo cita alguns exemplos, como o conterrâneo Henning Mankell, que tem três livros já lançados no Brasil pela Companhia das
Letras, a norueguesa Anne Holt e
o dinamarquês Leif Davidsen,
ambos inéditos no país.
Nesser, que opta por um viés
mais psicológico na composição
de seus personagens e tramas, diz
acreditar que o romance policial
escandinavo, em geral, é menos
violento do que a produção européia e, sobretudo, do que a tradição norte-americana.
"Não temos muita criminalidade em nossos países. Os romances
policiais dos Estados Unidos são
mais sombrios, violentos, matam-se mais pessoas. Nos escandinavos, a escala de crimes é menor. São histórias mais focadas
em dramas familiares, psicológicos, que ocorrem em cenários pequenos", avalia o autor.
Adaptações
Tirante a violência em menor
escala, a série policialesca de Nesser, que já teve várias adaptações
para o cinema e para a televisão,
com o ator sueco Sven Wollter no
papel principal, guarda semelhanças com a tradição do gênero:
Van Veeteren, seu detetive, é um
homem acima dos 50 anos de idade, infeliz com o trabalho, durão,
mas, ao mesmo tempo, um sujeito que tem um bom coração. Apesar de não ser sueco -o nome
Van Veeteren é holandês-, o detetive reflete algumas características dos "irmãos" escandinavos: o
inspetor é melancólico, cético e
solitário.
"Vivemos em países com um
clima duro. Não somos exatamente depressivos. No entanto,
um policial, depois de 30 anos
vendo o lado negro da vida, não
pode ser alguém feliz. Ele já acumulou muitas desilusões."
Em "A Rede", Van Veeteren,
que vive na pequena cidade sueca
de Maardan (fictícia), investiga as
circunstâncias misteriosas que levaram à prisão e à conseqüente
morte de Janek Mitter, um homem acusado, aparentemente
por engano, do assassinato da
mulher.
"Van Veeteren sabe que é seu
trabalho resolver o crime. Põe
mais energia do que deveria, talvez, porque é uma questão moral", diz Nesser, de sua criatura,
que, dez livros depois, não chegou
impune aos 65 anos.
"Em "A Rede", o detetive é mais
existencialista. Depois do quinto
livro, ele chega a seu limite, sai do
emprego e compra uma pequena
loja de livros antigos. Aos poucos,
ele conhece uma mulher, sua má
relação com o filho tem um desfecho trágico, mas ouso dizer que fica mais feliz do que era", adianta
o autor para seus futuros fãs em
terras brasileiras.
A Rede
Autor: Hakan Nesser
Tradução: Patricia Broers-Lehmann
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 39,90 (304 págs.)
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