São Paulo, sexta, 5 de setembro de 1997.



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O HUMOR DE MAU HUMOR
Renato Aragão

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza

O humorista Renato Aragão, 61, diz acreditar que a violência, a TV e o fechamento das salas têm afastado o público do cinema.
Ele acusa o cinema norte-americano de exportar violência e diz que o presidente Fernando Henrique Cardoso não tem feito muito para melhorar a situação de abandono da criança brasileira.
Afastado há seis anos, Aragão volta às telas com "O Noviço Rebelde", que está sendo gravado no Ceará. Dirigido por Tizuka Yamasaki, o filme é uma comédia e traz no elenco Patrícia Pillar, Tony Ramos, Chitãozinho e Chororó e Gugu Liberato.
Aragão conta que se sente como se estivesse recomeçando sua carreira. O humorista falou à Agência Folha no intervalo das gravações do filme, em Fortaleza.

Agência Folha - Como é voltar a filmar depois de seis anos?
Renato Aragão
- É como se eu estivesse começando tudo de novo. Quando entrou a crise do cinema brasileiro, eu fui o último a cair, fazendo "Os Trapalhões e a Árvore da Juventude". Aí ninguém mais fez cinema nacional. Agora, com a retomada, o pessoal pegou um gás, mas eu ainda fiquei meio cabreiro. Aí, eu resolvi voltar com um bom roteiro, uma boa direção e muita aventura.
Agência Folha - Você falou em crise, mas aparentemente nunca teve problemas, já que seus filmes sempre foram sucessos.
Aragão
- Tive sim. A televisão tirou muito público do cinema. Os cinemas grandes fecharam. O que existe agora são cinemas de shopping, com poucos lugares.
Agência Folha - Que tipo de dificuldade impede o público de ver filmes no cinema?
Aragão
- Primeiro, a extinção das salas. Depois, vem a TV concorrendo, com filmes atuais. Ao mesmo tempo tem a crise, a violência que faz com que as pessoas pensem duas vezes antes de sair de casa. Mas acredito que podemos reconquistar parte do público.
Agência Folha - O sr. sempre diz que se sente como se estivesse recomeçando. Por quê?
Aragão
- Estou afastado das telas há seis anos, mas sinto-me como na época de "Ondas do Iê-iê-iê", o primeiro filme, de 1965.
Agência Folha - O que o sr. acha que deve ser feito para viabilizar o cinema nacional?
Aragão
- Não tem fórmula. Não adianta dizer que os americanos gastam dinheiro, que enfrentamos uma concorrência desigual. Você tem de fazer como a Carla Camurati fez com "Carlota Joaquina", um filme simples, mas bem feito. Se você faz bem feito, o povo vai.
Agência Folha - Quais seus planos para a TV?
Aragão- Eu acertei com a Rede Globo uma participação na "Terça Nobre", e mensalmente nós vamos adaptar um clássico da literatura mundial. Vamos começar com "O Avarento", de Charles Dickens. Vamos adaptar o personagem Didi a estas histórias.
Agência Folha- A programação infantil consumida em desenhos animados, videogames e filmes explora muito a violência. O que você acha disso e como a violência é tratada no seu filme?
Aragão- Eu acho isso um crime. Eu digo que os americanos estão exportando a violência. Eu assisti um filme ontem na TV que só tinha mortes, violência, explosões. No meu filme tem aquela perseguição idiota, que não dá em nada. No fim, o bem sempre vence o mal.



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